quarta-feira, 17 de julho de 2013

Está um monstro debaixo da cama… só não vê quem não quer




Para as crianças é muito difícil expressar os seus sonhos maus/pesadelos e uma das razões, directa ou indirectamente, são os pais. Quem mais? Pobres pais…

Indirectamente porque o sonho pode ter como personagem os próprios pais: “A mãe enlouquecida que fecha o filho dentro de um armário escuro”; O pai transformado em monstro persegue a filha com uma faca da cozinha”; A mãe/bruxa com os olhos vermelho incandescente incendeia a cama onde o filho dorme”. Como conseguirá a criança contar estes sonhos aos pais onde eles aparecem como criaturas terríveis? De uma maneira geral as crianças sentem que estes sonhos não serão bem aceites pelos pais. E, quantos pais conseguiriam lidar com sonhos desta natureza? Não é fácil, à que dizê-lo.

Por outro lado, temos os pais que acordados a meio da noite, se confrontam com: “há um monstro debaixo da cama”; está alguém atrás do armário”, e a resposta é: “isso não é nada, é um pesadelo, dorme que isso já passou”.

Se a criança viu o monstro, então ele existe. E se ele existe, melhor será perguntar: “como era esse monstro?”; “o que é que ele estava a fazer?”; “ainda está aqui?”; “vamos correr com ele daqui”.

Se os pais não se disponibilizam a entrar no sonho, no espaço assustador, as crianças podem concluir que ninguém acredita nelas ou que os pais também estão assustados e por isso incapazes de as proteger. “Só me tenho a mim para me proteger”. Assim pode iniciar-se um afastamento dos pais, um isolamento em relação ao mundo que a rodeia, pois há coisas sobre as quais não se pode falar, coisas indizíveis, impossíveis de serem partilhadas. O mundo começa a fechar-se e nesse mundo, muitas vezes a criança precisa criar – um outro – dentro dela própria que a proteja.

Quando o terror não pode ser compartilhado a solidão ganha espaço. Estas experiências vividas sem testemunhas, levarão a criança a questionar até que ponto poderá partilhar a raiva, a mágoa e o sentimento de abandono. Impossibilitada de se fazer ouvir, gritará alto com maus resultados escolares, violência com os colegas, isolamento, alergias e mais alergias.

A criança gritará porque é a única forma que tem de se fazer ouvir, mas dramaticamente, não é porque grita que será ouvida. Será tratada, porque está doente e doente permanecerá até ser ouvida.



psicologia clínica

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