quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Implodir ou explodir?


Implodir ou explodir? A resposta não é fácil e, normalmente, a decisão está dependente dos (supostos) efeitos colaterais da explosão, ou seja, como recuperar dos danos resultantes – reais ou imaginados.
Embora provoque grandes estragos, a implosão (explosão interna) tem a “vantagem” de ser controlada pelo próprio.
Já na explosão (externa), o maior receio é a imprevisibilidade quanto aos (supostos) estragos. Temem-se os efeitos no outro e o reflexo no próprio.
É complicado abordar esta questão sem sabermos o que está por trás, mas tomemos o exemplo:
Imaginemos que a Filipa diminui e amesquinha constantemente a Inês através de observações desagradáveis, comentários depreciativos e a responsabiliza por tudo o que corre mal. Um dos efeitos nefastos da Inês não reagir traduz-se no desenvolvimento de sentimentos de desvalorização e de inculpação – absorção da maldade do outro transformando-a sua-; algo que se pode enraizar profundamente no Eu a ponto de se constituir como parte integrante deste.
Neste caso seria de supor que a “explosão” seria a resposta adequada, mas há um senão. O que representa a Filipa para a Inês? Se pensarmos que se trata de uma figura afectivamente muito importante é natural que o vontade da Inês reagir possa ser bloqueada devido ao receio (normalmente fantasiado) de vir a perder a relação com a Filipa. Quando o receio é muito grande dá-se a implosão.
Uma das conclusões que se podem tirar é que certas dinâmicas relacionais implicam custos muito altos.
As coisas não são tão simples como tentei demonstrar, são, até, muito mais complexas. Cada caso é um caso, mas implodir não é a solução, mas antes, uma forma de perpetuar certos padrões relacionais.


Psicoterapia

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Complexo de Édipo - Uma introdução


 Tendo em conta que um dos posts mais visto no blog é o “Complexo de Édipo”, e para desalento de alguns, não encontram mais do que uma tira humorística, que ainda por cima, reforça a ideia prevalecente e pouco precisa em relação ao C.E.: matar o pai e ficar com a mãe; decidi voltar ao tema. Para clarificar um pouco o mito Edipiano temos que ir à origem: Rei Édipo de Sófocles.

Antes de mais, é preciso dizer que o “Complexo de Édipo” é uma metáfora criada para descrever uma quantidade de ideias, emoções e impulsos, em grande parte inconscientes, que gravitam em torno das relações que as crianças estabelecem com os seus pais. O Complexo de Édipo aponta para a angústia e culpa que a criança sente em relação aos seus desejos, assim como para as consequências de agir de acordo com eles.

É complicado compreender esta metáfora se não estivermos familiarizados com a tragédia de Sófocles, Rei Édipo. A história de Édipo começa com a traumatização psicológica e física de uma criança por aqueles que deveriam ser os seus protectores, os pais.

Laio e Jocasta, Reis de Tebas, foram advertidos pelo oráculo que o filho deles, o bebé Édipo, estava fadado a assassinar o próprio pai. Este, depois de lhe terem trespassado os pés com uma lança, é entregue a uma pastor por Jocasta, com instruções para ser abandonado no deserto para morrer.

Édipo acaba por escapar à sua morte prematura sendo cuidado pelos reis de Corinto, Polybus e Merope, e cresce acreditando que estes são os seus verdadeiros pais.

Quando certo dia é-lhe sugerido que os Reis de Corinto não eram os seus pais; Édipo fica tão consternado que vai consultar o oráculo de Delfos, e este diz-lhe, que ele matará o seu pai e casará com a sua própria mãe. Acometido com essa profecia e desejando ardentemente proteger aqueles que pensa serem os seus pais, sai de corinto decidido a não voltar.

Entretanto numa encruzilhada tem um desentendimento e mata um homem – Laio, o seu pai.

Por fim Édipo chega a Tebas que está nesse momento assolada pela Esfinge, que instalada num penhasco propõe enigmas a todos os que passam por perto, matando qualquer um que não desse a resposta correcta. Édipo, destroçado com tudo o que tem acontecido, e não tendo muito apreço pela vida, aceita o desafio da esfinge e consegue resolver o enigma que ela lhe apresentou. Como recompensa por ter libertado Tebas, Édipo é feito rei e casa com Jocasta.

Muitos anos depois, abate-se sobre Tebas a peste como punição do assassinato não vingado de Laio. Édipo, vai então procurar o assassino e a verdade é revelada. No fim da tragédia, Jocasta suicida-se e Édipo cega-se.

Aquilo que se entende por Complexo de Édipo tem um significado simbólico de grande riqueza referencial. Entender o Complexo de Édipo como: rapazinhos que querem matar o pai e casar com a mãe é de extrema simplificação, ou mesmo descabido. É preciso não esquecer que quando Édipo matou Laio e acabou casado com Jocasta, este não sabia que estes eram os seus verdadeiros pais. Na verdade Édipo saiu de Corinto para proteger aqueles que julgava serem os seus pais.


posts relacionados: Complexo de Édipo

psicologia clínica

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O meu segundo amor




psicologia clínica

Trauma - uma introdução


No Vocabulário de Psicanálise, Laplanche e Pontalis descrevem trauma ou traumatismo (psíquico) como:
“Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogénicos duradouros que provoca na organização psíquica.”
No entanto, nem toda a experiência de trauma é um acontecimento específico; ele pode ser cumulativo. Neste caso, uma vez que as causas são menos claras, torna-se mais difícil de lidar.
Conceito importante associado ao de trauma, é o de sinal de angústia.
Laplanche e Pontalis referem:” O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesa.”
Segundo P. Casement, quando se considera a revivência do trauma é importante pensar em conjuntos inconscientes.
“Isso dá-nos uma lógica em termos da qual podemos entender como a mente regista inconscientemente elementos particulares como sendo da mesma natureza – porque foram anteriormente vivenciados juntos. Assim eles passam a ser estabelecidos como relacionados, de forma atemporal e sem excepção. Para o inconsciente a parte pode representar o todo, logo, qualquer coisa associada a uma situação traumática pode representar o trauma como um todo e pode deflagrar o sinal de ansiedade, alertando a mente inconsciente como se aquela situação traumática estivesse na eminência de se repetir.”
P. Casement dá-nos um exemplo através de uma vinheta clínica:
Uma menina de dois anos de idade foi levada pela mãe para ser vacinada antes de viajar para o estrangeiro. Para poder aplicar a vacina na coxa da criança, o médico pediu à mãe para levantar o vestido da filha. Até aí nada de anormal, à excepção, talvez, da presença desse relativamente estranho – o médico de família. Mas depois de ficar chocada com a súbita dor da injecção, foram necessários alguns meses para que a criança fosse capaz de recuperar da experiência que parecia estar sempre iminente. Mais especificamente, ela demonstrava um claro sinal de ansiedade sempre que a mãe tentava trocar-lhe as roupas.
Qualquer tentativa da mãe de levantar o vestido da criança era recebida com gritos. Uma reacção semelhante era evidente quando se tirava qualquer outra peça de roupa; quanto mais perto da parte inferior do corpo mais intensa era a reacção. Outras pessoas tinham mais sucesso do que a mãe nessa operação, mas ninguém podia levantar-lhe o vestido.
Podemos ver neste exemplo como várias associações relacionadas com a situação de perigo foram estabelecidas em torno do trauma original.
As mais específicas eram as seguintes: a mãe com a criança ao colo levantando o vestido.
Associações menores também podiam ser identificadas: roupas perto da coxa e pessoas como a mãe.
Era perceptível que a criança tinha mais confiança no pai do que na mãe quando estava no colo. Mas quando a criança estava no colo de outra pessoa, o pai tornava-se a fonte de ansiedade caso estendesse as mãos para ajudar a tirar a roupa.
Por isso, dava a sensação de existirem diferentes níveis de associação a funcionar: uma pessoa-colo do sexo feminino era mais temida do que uma pessoa-colo do sexo masculino, particularmente quando associada à tentativa de tirar a roupa. Também um homem de braços estendidos para ajudar, quando associado à tentativa de tirar roupas, era mais temido do que uma mulher na mesma posição.
Neste exemplo podemos ver que o trauma passou a ser associado a um conjunto de elementos principais: estar no colo de uma mulher; roupas removidas ou levantadas; um homem a estender as mãos para fazer algo.
Reconhecendo intuitivamente as associações às quais sua filha reagia, a mãe encontrou uma maneira de lidar com o problema.
Ao colocar a criança na banheira e molhando as roupas, ao invés de tentar despi-la ao colo distanciou-se da situação traumática. Conseguiu então tirar roupas que estavam molhadas em vez de secas. Roupas molhadas não tinham participado no trauma original, de modo que essa diferença permitiu à criança aceitar uma nova maneira de se despir, apesar de que remover roupas ainda era parte daquilo que a mãe fazia.
Ela não estava, portanto, evitando completamente a experiência, mas encontrando uma maneira de fazer face a ela – na medida em que a criança estava em condições de a tolerar.
Gradualmente os vínculos associativos tornaram-se mais fracos e as roupas secas também puderam ser removidas: primeiro, removidas quando ela estava sentada numa banheira vazia e, depois, sentada ao colo da mãe.


psicologia clínica

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Quem não chora não mama


                                                             

 - Ninguém sabe como me sinto, ninguém se interessa…
 - Você já disse a alguém como se sente?

A expectativa de que os outros saibam como nos sentimos sem necessidade de o manifestar, na maioria das vezes, não se concretiza.

Naturalmente, o próprio, coloca a questão em relação ao outro: Ele não se interessa, não gosta de mim, é um ingrato…….

O ângulo que me parece mais importante observar é o do próprio. O desejo de ser entendido sem necessidade do expressar encontra paralelo na infância precoce onde a mãe consegue antecipar os desejos/necessidades da criança e os satisfaz. Mas excluindo este “fenómeno” que resulta de uma profunda ligação (fusão) mãe-bebé, e, que para o bem de todos se desfaz gradualmente, a criança vai desde o início manifestando as suas necessidades e procura pelos meios de dispõe que elas sejam satisfeitas. Com o crescimento a criança vai adquirindo capacidades e uma das mais importantes é a linguagem. A partir desse momento dispõe de um valioso e complexo meio de expressão.


“Quem não chora não mama”

Se não é fácil pedir ajuda, para algumas pessoas isso é quase impossível. Pedir representa uma falha, uma fragilidade que é necessário ocultar. Quando pedem ajuda fazem-no de uma forma atabalhoada e encoberta que mais parece que não precisam de nada. O receio de pedir e não receber não só expõe a falha como a amplia. Então, numa satisfação perversa, aguentam estoicamente em silêncio, alimentando sentimentos hostis em relação ao outro, que geram distância em vez de proximidade.


Está na altura de começar a falar                                                                                  


   psicologia clínica

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

De pequenino se torce o pepino


       

           A Vénus das Peles





psicologia clínica

Liberdade de escolha


O governo Sueco (provavelmente, com a melhor das intenções) ávido de resultados e impelido por questões financeiras decidiu que iria apoiar um modelo de psicoterapia em detrimento de todos os outros. Quando chegou altura de analisar os resultados, os responsáveis suecos concluíram que se tinham equivocado, não só os resultados não foram os esperados como superaram as piores expectativas. Apostou tudo no vermelho e saiu preto. Acontece.

Como já é hábito, as pessoas que não tiveram oportunidade de escolha, que se sujeitaram a algo que não era bom para elas e que, acredito, perderam muito com isso, não são consideradas. Adiante.

Independentemente das qualidades subjacentes a cada modelo psicoterapêutico, aqui estamos a falar de liberdade de escolha. As pessoas não são todas iguais, felizmente são até bastantes diferentes, por isso devem ser elas que, informadas, devem escolher aquilo que julgam ser melhor e caso concluam que não é o indicado, devem poder mudar livremente.

Esta tendência de uniformização e catalogação das pessoas em patologias (o deprimido, o psicótico, o hiperactivo) e por conseguinte, abordagens terapêuticas especificas para certos diagnósticos, não se mostra eficiente. Mas Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha, e continua-se a insistir. Todos os deprimidos do mundo são iguais, todas as depressões são iguais, todos os terapeutas são iguais. Há coisas que nem parecem difíceis de entender.




Psicoterapia