segunda-feira, 30 de abril de 2012

Distúrbio da Hiperactividade com Défice de Atenção

Nos últimos 30 anos, o PHDA (distúrbio da hiperactividade com défice de atenção) parece ter-se tornado numa epidemia na nossa sociedade, com uma em cada 10 de todas as crianças de dez anos de idade medicada para estes sintomas. Os pais cujos filhos apresentam estes sintomas têm que decidir, se o filho deve ou não ser medicado, na maioria das vezes, sem terem informação suficiente. Para além do mais, há um problema identificado; os pais estão pressionados para agir. Com o intuito de poder ajudar os pais a decidir, Aqui fica um artigo recentemente publicado no New York Times: "Ritalin Gone Wrong" de L. Alan Sroufe.



psicologia clínica

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sobre o narcisismo # 1


A prótese narcísica é uma forma de compensação por sentimentos (principalmente) de inferioridade.
Através desta estratégia de compensação procura-se obter uma nova imagem de si através da correcção da falha (narcísica).
Uma vez que a falha se situa ao nível interno, este processo está condenado ao fracasso. Por muitos pincéis e tintas que se use para retocar a imagem , por baixo ela mantém-se inalterada. Esta tentativa de engrandecimento não passa de uma luta inglória, porque, apesar de um esforço continuado, é remar contra a maré.
Os recursos em vez de serem colocados ao serviço do próprio são desperdiçados em manobras, muitas vezes desesperadas, de esconder – desse ser que se pretende grandioso – todas as imperfeições.
Por não compreender mais profundamente os sentimentos de inferioridade e assim procurar a ultrapassá-los, vive-se confinado entre a imagem negativa e distorcida de si (porque só consegue ver-se parcialmente) e a imagem desejada de grandeza. Flutuando, sem ser uma coisa nem outra, dará à costa trazido pela maré.
psicologia clínica

domingo, 22 de abril de 2012

A clínica encenada

Maria tem 32 anos e uma filha de 7. Maria está constantemente a sufocar a filha com as suas preocupações injustificadas, da mesma forma que a mãe a sufocava a ela. Reconhece isso, mas sente que não consegue mudar.
Força-se a ser diferente, acabando muitas vezes por ser um híbrido materno sem consistência afectiva. Procura a terapia com a esperança de se tornar uma mãe melhor do que a sua, e com isso poder desfrutar (em vez de contaminar) da relação com a filha.
Juntos, Maria e eu exploramos a sua identificação com a mãe e a incapacidade de separar-se dela. Através de novas identificações (não tóxicas) é possível avançar lentamente.
A distância não é corte, é continuidade (de existir).
Com o decorrer da psicoterapia sente menos necessidade das minhas intervenções. Começa a poder fazer escolhas e a reconhecer as opções como sendo suas. Essa liberdade crescente permite-lhe iniciar pequenos percursos (dentro e fora da terapia), com esforço, mas com igual prazer.
O desenvolvimento da capacidade de compreender e aceitar os relacionamentos nas suas múltiplas dinâmicas levam-na a usufruir da ligação com outros e em particular com a filha.
Apanhada na rede da transmissão intergeracional, onde de pais para filhos se perpetua certo tipo de funcionamento mental, parece agora, mais perto, de pôr fim a esse ciclo.



Psicoterapia

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Anorexia Mental # 2


A caracterização da anorexia nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada por uma atitude rígida, obsessiva e distorcida face ao peso, alimentação e gordura corporal. Normalmente tem início na puberdade e na adolescência e é causa de morbilidade e mortalidade.
A tríade sintomática associada à anorexia mental é o emagrecimento, a anorexia e a amenorreia.
Os primeiros sinais da doença podem resultar de uma experiência de separação física ou psicológica da mãe, como por exemplo uma escola mais distante, umas férias longe dos pais, ou começar a namorar/interessar-se por alguém e ser rejeitada.
O percurso da anoréxica na doença começa por norma com uma dieta auto-imposta (só 25% das anoréxicas que começam a fazer dieta tem excesso de peso) muito pobre onde se excluem os alimentos mais gordurosos e calóricos com o objectivo de perder 3/4 kg para diminuir certas partes do corpo e pode terminar numa mais radical ou mesmo total.
A perda inicial de peso é sentida como uma vitória, que vai trazer uma força adicional para a perseguição de um corpo cada vez mais magro. À medida que emagrece aumenta o medo do ganho ponderal ao ponto de não admitir que o peso fique estacionário, pois tem muito medo de ficar obesa em poucos dias. Engordar é visto como um fracasso.
De forma inversa perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina. A anoréxica faz uma verificação diária da perda progressiva do peso. Cada vez que o peso diminui, mesmo que apenas alguns gramas, é sentido como uma vitória na caminhada para o peso ideal.
Quando aumenta alguns gramas fica muito angustiada e em pânico. A contagem obsessiva das calorias ingeridas e dos alimentos está sempre presente e parece contrastar com apetência para cozinhar para os familiares. O exercício físico diário é quase obrigatório, em último caso pode resumir-se a caminhar a pé.
Os transtornos das condutas alimentares ocupam uma posição de cruzamento entre a infância e a idade adulta como ilustra a sua ocorrência electiva na adolescência, entre o psíquico e o somático, entre o individual e o social. Este cruzamento ilustra a provável ligação entre esta patologia e os processos de mudança como por exemplo a puberdade e a autonomia.
Há uma impossibilidade de expressão através da representação psíquica que vai obrigar a recorrer a uma expressão actuada no corpo. As questões da adolescência – identidade, dependência, imagem corporal, o ideal – são as mesmas que se encontram na anorexia nervosa, a diferença está na forma como são elaboradas.
A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino, com fixação a uma imagem idealizada do corpo infantil, recusa do corpo sexuado, alicerçada numa relação simbiótica com a mãe e negação da feminilidade.
Se por um lado é a expressão de dificuldades e sofrimento psíquico, por outro, também representa uma tentativa de reorganização, re-adaptação e por isso, uma forma de auto-terapia. O corpo magro é fácil de alcançar por qualquer rapariga, criando-se assim uma organização defensiva compensatória perante uma insatisfação interna.
As adolescentes com anorexia nervosa procuram uma nova oportunidade de serem compreendidas e que algumas coisas possam agora ser elaboradas, mas que ao mesmo tempo pode trazer desfechos fatais.
Não se pode anular uma situação existencial sem pôr em perigo a própria existência. A partir do momento em que na anoréxica os processos defensivos do Eu forçam ao retraimento extremo, não muda mais nada e o sujeito agarra-se deuma forma quase delirante à ideia de imortalidade, que em casos extremos pode mesmo levar à morte.
Como manifestações fisiológicas da doença as anoréxicas apresentam amenorreia, enfraquecimento e queda do cabelo, lanugo, cianose das extremidades, magreza, caquexia ou emaciação, desidratação com possíveis sinais de choque, atraso no início ou interrupção do desenvolvimento pubertário, pele seca e descamativa, perda de pêlo axilar e púbico, cabelo seco e quebradiço, hipotermia, bradipneia, bradicardia, hipotensão, edemas periféricos e osteoporose.
In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO”
Pedro Martins


psicologia clínica

terça-feira, 10 de abril de 2012

Psicoterapia, Porquê?

No seu percurso, todo o ser humano, se depara com obstáculos. Fazendo uso dos nossos recursos vamos tentando superar angústias, perdas, medos e rupturas, que com maior ou menor intensidade nos afectam. Algumas, pela sua dimensão, tornam-se difíceis de ultrapassar. Outras, pelo seu carácter persistente, tornam-se desgastantes e começam progressivamente a condicionar-nos.


Muitas vezes os problemas atingem certa dimensão que se tornam impossíveis de ultrapassar sem ajuda. Entre eles, temos por exemplo, a ansiedade e angústia continuada, as fobias e as doenças psicossomáticas. Os sintomas associados a estas problemáticas acabam por ter uma interferência crescente, que pode impossibilitar a realização das tarefas diárias. Noutros casos, em vez de uma marcada sintomatologia encontramos um desinteresse generalizado. A vida parece desprovida de sentido, de objectivos, como se todos os dias fossem iguais. Os relacionamentos escasseiam ou são inconstantes e insatisfatórios. O isolamento aumenta e a tristeza toma um carácter permanente que se pode aprofundar até à depressão. É na altura em que sentimos que o nosso bem-estar e equilíbrio estão em causa que devemos recorrer à ajuda de psicólogos.


A psicoterapia é um processo que visa explorar as áreas onde se encontram as dificuldades emocionais, aumentando dessa forma a capacidade de lidar com os problemas e de os resolver. Através da compreensão das experiências e emoções, difíceis de pensar noutros ambientes, é possível operar mudanças. A psicoterapia fornece um quadro, que permite ao indivíduo, a obtenção de uma maior compreensão e perspectiva sobre as experiências de vida (familiares, conjugais, profissionais, sociais), abrindo-se desta forma, a possibilidade de
consumar modificações desejadas.



Psicoterapia

Anorexia Mental # 1


  História

O conhecimento da anorexia mental remonta às referências encontradas em Hipócrates, Galeno, e sobre Teresa de Ávila e as suas práticas com a rama de oliveira para induzir o vómito.
A história da Anorexia Nervosa começa na Europa Medieval com os casos de Anorexia Mística, sendo paradigmático, o de Santa Catarina de Siena.
As opiniões dividem-se entre os que pensam que a anorexia mística não é a mesma doença que actualmente é designada por anorexia mental (Caroline Bynum) e aqueles que encontram muitas semelhanças entre ambas (Rudolph Bell).
Apesar das reconhecidas diferenças a anorexia antiga pode ser melhor compreendida à luz da anorexia moderna.
A partir do Sec. XVII e XVIII a curiosidade científica de alguns médicos no estudo das “Mulheres Santas” que nada ingeriam, fizeram com que dessem ao fenómeno o nome de “Inedia Prodigiosa” e “Anorexia Mirabilis”.
Mas os primeiros olhares verdadeiramente científicos ocorrem em 1668 por Thomas Hobbes, ao observar uma jovem que não comia há 6 meses e à qual não atribuiu nenhum milagre mas considerou tratar-se de uma doença. No seguimento, aparecem os nomes de Cotton Mathes (1633-1728), Erasmus Darwin (1731-1802) e Allrecht Von Halla (1708-1777).
Na história da anorexia nervosa há 2 descrições científicas que servem de marco. Uma é a de Morton no Sec. XVII e a outra a de Lasègue e Gull no final do Sec. XIX. Já no Sec. XX a doença era atribuída ao mau funcionamento da hipófise fazendo com que fosse estabelecida uma confusão com a “doença de Sheehan” ou “doença de Simmonds”, e foi desta forma compreendida até à definição actual.
No entanto, aquela que é considerada a 1ª descrição de carácter científico duma situação idêntica à Anorexia Nervosa foi feita em 1698 num tratado de Tisiologia pelo médico Inglês Morton.
Mas é a Gull e a Lasègue (1868), que são atribuídas as definições modernas de Anorexia Mental. Gull, em 1873 apresenta 3 casos clínicos de uma doença que intitulou de “Anorexia Histérica”.
Mais tarde publicou os três casos num artigo intitulado “Anorexia Nervosa”. A sua correcção no nome da doença deveu-se a facto de ter encontrado a mesma patologia num homem. Nesse mesmo ano Lasègue, (fica-lhe a honra de ser considerado o primeiro) pertencente ao círculo de Charcot, publica um artigo sobre a “Anorexia Histérica”.
Louis-Victor Marcé (1859), descreveu pela primeira vez a anorexia mental. Foi no entanto em 1873 por Lasègue e em 1874 por Gull que fica definida como um síndroma. Gull o criador do termo anorexia nervosa que é utilizado nos países de língua inglesa, Alemanha e Rússia. Laségue designou a patologia como sendo inicialmente anorexia histérica e depois anorexia mental, termo usado em França e Itália.
In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO”
Pedro Martins


psicologia clínica