quinta-feira, 12 de abril de 2012

Anorexia Mental # 2


A caracterização da anorexia nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada por uma atitude rígida, obsessiva e distorcida face ao peso, alimentação e gordura corporal. Normalmente tem início na puberdade e na adolescência e é causa de morbilidade e mortalidade.
A tríade sintomática associada à anorexia mental é o emagrecimento, a anorexia e a amenorreia.
Os primeiros sinais da doença podem resultar de uma experiência de separação física ou psicológica da mãe, como por exemplo uma escola mais distante, umas férias longe dos pais, ou começar a namorar/interessar-se por alguém e ser rejeitada.
O percurso da anoréxica na doença começa por norma com uma dieta auto-imposta (só 25% das anoréxicas que começam a fazer dieta tem excesso de peso) muito pobre onde se excluem os alimentos mais gordurosos e calóricos com o objectivo de perder 3/4 kg para diminuir certas partes do corpo e pode terminar numa mais radical ou mesmo total.
A perda inicial de peso é sentida como uma vitória, que vai trazer uma força adicional para a perseguição de um corpo cada vez mais magro. À medida que emagrece aumenta o medo do ganho ponderal ao ponto de não admitir que o peso fique estacionário, pois tem muito medo de ficar obesa em poucos dias. Engordar é visto como um fracasso.
De forma inversa perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina. A anoréxica faz uma verificação diária da perda progressiva do peso. Cada vez que o peso diminui, mesmo que apenas alguns gramas, é sentido como uma vitória na caminhada para o peso ideal.
Quando aumenta alguns gramas fica muito angustiada e em pânico. A contagem obsessiva das calorias ingeridas e dos alimentos está sempre presente e parece contrastar com apetência para cozinhar para os familiares. O exercício físico diário é quase obrigatório, em último caso pode resumir-se a caminhar a pé.
Os transtornos das condutas alimentares ocupam uma posição de cruzamento entre a infância e a idade adulta como ilustra a sua ocorrência electiva na adolescência, entre o psíquico e o somático, entre o individual e o social. Este cruzamento ilustra a provável ligação entre esta patologia e os processos de mudança como por exemplo a puberdade e a autonomia.
Há uma impossibilidade de expressão através da representação psíquica que vai obrigar a recorrer a uma expressão actuada no corpo. As questões da adolescência – identidade, dependência, imagem corporal, o ideal – são as mesmas que se encontram na anorexia nervosa, a diferença está na forma como são elaboradas.
A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino, com fixação a uma imagem idealizada do corpo infantil, recusa do corpo sexuado, alicerçada numa relação simbiótica com a mãe e negação da feminilidade.
Se por um lado é a expressão de dificuldades e sofrimento psíquico, por outro, também representa uma tentativa de reorganização, re-adaptação e por isso, uma forma de auto-terapia. O corpo magro é fácil de alcançar por qualquer rapariga, criando-se assim uma organização defensiva compensatória perante uma insatisfação interna.
As adolescentes com anorexia nervosa procuram uma nova oportunidade de serem compreendidas e que algumas coisas possam agora ser elaboradas, mas que ao mesmo tempo pode trazer desfechos fatais.
Não se pode anular uma situação existencial sem pôr em perigo a própria existência. A partir do momento em que na anoréxica os processos defensivos do Eu forçam ao retraimento extremo, não muda mais nada e o sujeito agarra-se deuma forma quase delirante à ideia de imortalidade, que em casos extremos pode mesmo levar à morte.
Como manifestações fisiológicas da doença as anoréxicas apresentam amenorreia, enfraquecimento e queda do cabelo, lanugo, cianose das extremidades, magreza, caquexia ou emaciação, desidratação com possíveis sinais de choque, atraso no início ou interrupção do desenvolvimento pubertário, pele seca e descamativa, perda de pêlo axilar e púbico, cabelo seco e quebradiço, hipotermia, bradipneia, bradicardia, hipotensão, edemas periféricos e osteoporose.
In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO”
Pedro Martins


psicologia clínica

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