terça-feira, 31 de julho de 2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

Superprotecção das crianças pode favorecer obesidade


Uma atitude de superprotecção das crianças pode conduzir à ansiedade e, consequentemente, à obesidade pelo consumo de alimentos como procura de segurança, avançou hoje um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Os resultados preliminares de um estudo desenvolvido por investigadores da FMUP indicam que as crianças, “sobretudo as meninas”, que sejam educadas por pais superprotectores e “demasiado zelosos, podem ser mais propensas ao desenvolvimento da obesidade”.
De acordo com os investigadores, a atitude superprotectora dos pais leva a que as crianças tenham a imagem de um “mundo ameaçador”, sentindo ansiedade e tendo, consequentemente, “um aumento de cortisol, a hormona do stress”.
Os casos, classificados como “vinculação insegura” pelos especialistas, poderão ter “efeitos menos positivos” no desenvolvimento das crianças, levando-as a uma procura de segurança através de “conforto em actos básicos”, como a comida ou o bem-estar emocional junto de alguém.
“Os dados sugerem que, quando existe vinculação insegura, os rapazes tendem a exteriorizar o comportamento, tornando-se agressivos, por exemplo, mas as meninas parecem internalizar as emoções, comendo”, explicou Inês Pinto, estudante do programa Doutoral em Metabolismo da FMUP e investigadora principal do estudo.
A investigadora adiantou que os níveis elevados de stress sentidos pelas meninas leva a que não consigam ter sucesso quando sujeitas a dietas, visto que a comida é “a forma de obterem uma sensação de conforto e segurança”.
De acordo com a investigadora, os pais devem procurar ajuda para as meninas que tenham excesso de peso e uma personalidade introvertida, especialmente nos casos em que a alteração da dieta não surte qualquer efeito, mencionando ainda que os profissionais envolvidos terão que estar alerta para um possível “sofrimento não visível, que tem de ser observado por um especialista em saúde mental“.
O estudo foi orientado pelo director do Departamento de Neurociências Clínicas e Saúde Mental da FMUP, Rui Coelho, e por Conceição Calhau, professora e investigadora na área do Metabolismo.

psicologia clínica

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O grande especialista em crianças é a mãe



D. Winnicott, autor do conceito de mãe suficientemente boa, refere que esta é uma mãe atenta e capaz de se adaptar activamente às necessidades do seu filho, mas ao mesmo tempo, é capaz de frustrar criando uma desilusão gradativa necessária ao desenvolvimento.
“Com o tempo, o bebé começa a precisar da mãe para ser mal sucedido na sua adaptação (…). Para uma criança, seria muito aborrecido continuar a vivenciar uma situação de omnipotência quando ela já dispõe de mecanismos que lhe permitem conviver com as frustrações e as dificuldades do seu meio ambiente.”
Com a proliferação de estudos e livros publicados sobre bebés e crianças as mães arriscam-se a perder a intuição.
Nunca tivemos acesso a tanta informação como agora. livros, sites, artigos, blogs, aulas, terapeutas, etc. Apesar desta lista interminável os pais parecem cada vez mais inseguros e ansiosos em relação aos seus papéis.
Para cada dúvida existe um milhão de respostas, parte delas contraditórias. O conhecimento que poderiam adquirir destas leituras por vezes gera mais ansiedade do que tranquilidade.
Em grande medida a educação é a transmissão de um modelo que existe em cada um de nós. A mãe aprendeu muito mais pelo facto de já ter sido criança, de ter observado outros pais com os seus filhos, de ter brincado (fantasiado) aos pais e às mães, do que poderá aprender com este tipo de livros.
Pra além do mais, é possível que a espessa camada de informações impeça os pais de serem naturais, e só quando se desprendem dessa quantidade de instruções conseguem envolver-se mais profundamente com os filhos.
À medida que a ansiedade diminui as mães têm mais consciência das suas qualidades e dessa forma conseguem tirar mais proveito da informação disponível, conservando a intuição.
A expressão “mãe suficientemente boa” implica a ausência de um imperativo de perfeição. Ao mesmo tempo, o reconhecimento que a mãe faz das suas imperfeições deve constituir algo mais libertador do que opressivo.
A mãe já foi filha e por isso, trás consigo recordações de tê-lo sido e de ter sido cuidada por uma mãe, e estas lembranças tanto podem ajudá-la como atrapalhar na sua experiência como mãe. No entanto, só muito excepcionalmente, encontramos mães que por graves perturbações são incapazes de cuidar dos filhos ao ponto de os colocar em risco.
Felizmente todas as mães falham, não são perfeitas, e por isso não conduzem os seus filhos para um mundo falso e delirante. A mãe que falha não ama menos os seus filhos, somente segue a intuição que vem desenvolvendo e que agora nesta experiência materna experimenta.

psicologia clínica

terça-feira, 10 de julho de 2012

Complexo de Édipo



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Psicólogo Clínico

365 razões para ficar apreensivo



O DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, surgiu nos Estados Unidos em 1952 (DSM-I) pelas mãos da APA- American Psychiatric Association e resultou da necessidade de criar um sistema de classificação que unificasse os 5 sistemas de classificação existentes.

O propósito do DSM-I era criar uma nomenclatura comum, baseada num consenso do conhecimento contemporâneo sobre os transtornos psiquiátricos. Baseado em listas de sintomas o DSM-I incluía 3 categorias de psicopatologia: síndromes cerebrais orgânicos, distúrbios funcionais e deficiência mental. Essas categorias continham 106 diagnósticos. Apenas o diagnóstico de reacção de ajustamento na infância/adolescência podia ser aplicada a crianças.

O DSM-II foi publicado em 1968 e continha 185 diagnósticos que se distribuíam por 11 grandes categorias de diagnóstico. Uma maior atenção foi dada aos problemas da criança e da adolescência com a adição dos transtornos do comportamento da infância e da adolescência.

As publicações do DSM-I e do DSM-II foram amplamente criticadas por falta de validade e confiabilidade. As descrições dos diagnósticos não eram detalhadas, deixando muito espaço para o erro. Além disso, as descrições foram feitas por um pequeno número de académicos, em vez de se apoiarem em estudos empíricos. Muitos psiquiatras criticaram o modelo implícito médico, afirmando que era inadequado, porque a causa da maioria das doenças era desconhecida. Um dos maiores críticos foi Thomas Szasz, que se tornou o líder da anti-psiquiatria. No seu livro “O Mito da Doença Mental” (1961) afirmou que os transtornos mentais são na realidade "problemas da vida" e acusava os psiquiatras de serem "polícias da moral".

Em 1980 surge o DSM-III com critérios explícitos para 15 categorias e 265 diagnósticos, ou seja, mais 80 do que a sua antecessora DSM-II. Passou de 92 páginas para 482. A DSM-III foi tão popular e obteve tantas receitas que levou à criação da imprensa psiquiátrica americana.

Devido a novas pesquisas, ensaios de campo e problemas com a codificação, a APA publicou o DSM-III-R em 1987. O DSM-III-R destinava-se a ser uma curta actualização, no entanto, as diferenças entre o III e o III-R são grandes. O DSM-III-R viu serem renomeadas, eliminadas e incluídas novas categorias. Diagnósticos controversos como a Síndrome Pré-Menstrual, Transtorno da Personalidade Masoquista, entre outros, foram descartados devido às suas implicações sociais. Ao todo o DSM-III-R continha 297 diagnósticos. Apesar de amplamente aceite, o DSM-III e o DSM-III-R foram também amplamente criticados e a evidência científica questionada.

O DSM-IV foi publicado em 1994, para reflectir a investigação realizada desde 1987, data da publicação do DSM-III-R. O DSM-IV viu serem reestruturadas várias categorias, de onde surgiram 365 diagnósticos em 886 páginas (7 vezes maior do que o DSM-II). Tal como os seus predecessores, o DSM-IV foi criticado por levantar, entre outras, questões de comorbidade e sobreposição de sintomas. Não resolveu o problema da TPM e os outros transtornos controversos foram simplesmente adicionados entre os distúrbios que requerem um estudo mais aprofundado.

O DSM-IV-TR (2000) foi lançado para corrigir quaisquer erros factuais e fazer alterações que reflectissem as pesquisas recentes. Não tinha a intenção de resolver qualquer um dos problemas de DSM-IV. Pelo contrário, as alterações eram limitadas ao texto; expressões como "esquizofrénico" foram removidas e substituídas por "um indivíduo com esquizofrenia".

Esta é a história do DSM, mas é também a história que reflecte uma certa visão da doença mental. Em 40 anos foram acrescentados 250 diagnósticos a uma lista que já continha 106. Quem ler o DSM vai encontrar muitas razões, algumas sérias, para procurar tratamento psiquiátrico. A visão distorcida do ser humano encontra-se bem espelhada nas descrições estéreis e descontextualizadas das 886 páginas do DSM-IV-R. O desejo de uniformizar e padronizar através do registo de sintomas observáveis acaba por retirar a subjectividade inerente à vida psíquica, catalogando e empacotando pessoas em categorias estatísticas. As fronteiras entre a chamada normalidade e a psicopatologia parecem não existir, entrelaçando a vivência do sofrimento com a patologia. A vida do paciente, as suas vivências, actuais ou passadas, o seja, a tentativa de compreender a relação doente/doença são desprezadas. Nesta desenfreada proliferação de diagnósticos, com perigosas incursões à infância, que se traduzem numa patologisação e medicalização da vida mental, caminha-se a passos largos para uma profunda desumanização. A DSM-V está na forja, e de bom, nada podemos esperar.

posts relacionados: Diz-me quantas vezes fazes, dir-te-ei... ; O Alienista

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Valorização pessoal (isento de iva)




Psicólogo Clínico

O que é uma psicoterapia? A minha ou a sua?


Quando o meu amigo Tristan Walker (incansável a colaborar no site) me pediu para escrever sobre psicoterapia, fiz uma busca na internet e verifiquei que quase todos os sites/blogues dizem coisas parecidas de maneiras diferentes. Ao ler senti que aqueles textos pouco dizem sobre um processo/experiência/relação intensa e profunda como é uma psicoterapia. Tratam-se de descrições com detalhes herméticos e ao mesmo tempo, vazias no essencial, dando a entender que as pessoas são todas iguais e que se devem encaixar num modelo psicoterapêutico em vez de ser a psicoterapia a ajustar-se à pessoa, no seu sofrimento pessoal, na sua singularidade, naquilo que tem de único.

Uma psicoterapia é uma experiência emocional vivida. Como tal, ela não pode, na verdade, ser traduzida, transcrita, explicada, compreendida ou contada em palavras. Ela é o que é. Qualquer esforço para a descrever ficará sempre aquém da experiência. Compreendo que as pessoas procurem saber algo de concreto, algo que as ajude a criar uma ideia sobre a dita Psicoterapia e com a ajuda dessas descrições, efectivamente a construam. No entanto, podem ler-se vários livros sobre cães mas se o leitor não tiver experienciado um cão vivo, não vai saber o que é um cão.

Tenho para mim que uma psicoterapia que promova a mudança/crescimento psicológico, ou seja, a expansão da capacidade de experimentar todo o espectro de sentimentos que podem ir da alegria à tristeza mais profunda e até ao colapso psicológico, necessita assentar em valores. Não se trata, neste caso, de valores morais ou éticos, mas valores psicoterapêuticos – respeito, verdade, responsabilidade – dos quais não se deve abrir mão.

Recentemente fui procurado por uma pessoa interessada em iniciar uma psicoterapia.

“ …contínuo a pensar que não me pode ajudar, e o Dr. deve estar a perguntar, se eu acho que não me pode ajudar porque estou aqui? Nos últimos anos tenho coleccionado garantias e promessas de resolução dos meus problemas. Quando lhe perguntei, na primeira consulta, se me podia ajudar você respondeu que não sabia, que não podia responder com a certeza de que me podia ajudar. Para quem está farto de mentiras a sua sinceridade, ainda que não tenha sido música para os meus ouvidos, foi importante para mim.”

Neste caso, a opção foi, parar e pensar. Parece-me importante que o tenha feito, interrompendo a roda-viva de saltar de consultório em consultório, à procura de uma bela melodia para os seus ouvidos. Talvez se tenha aberto para o paciente uma frincha na janela do “não saber”. O terapeuta deve ser capaz de tolerar e de ajudar o paciente a lidar com o “não saber”. O “não saber” é uma pré-condição para ser capaz de pensar, de imaginar. A imaginação, ao contrário da fantasia, que é rígida e repetitiva, mantém aberta uma multiplicidade de possibilidades de experimentação emocional.

Terapeuta e paciente devem estar empenhados no esforço de encarar a verdade, de serem honestos consigo mesmos em face da experiência emocional perturbadora. Este esforço está no âmago do processo terapêutico e dá-lhe uma direcção. Não se trata de uma busca da verdade mas do que é verdadeiro em relação ao que está acontecer no processo terapêutico, criando assim, um contexto humano no qual o paciente possa ser capaz de viver a sua experiência emocional passada e presente. Ao ajudar o paciente a enfrentar a verdade da sua experiência emocional o terapeuta deve respeitar as formas que este encontrou para manter a sua sanidade. A velocidade e o ritmo dos esforços para encarar a verdade da sua experiência emocional devem ser determinados pelo próprio paciente.

O respeito que o terapeuta deve ter para com o paciente e pelo sofrimento que ele e aqueles que lhe são próximos vivem, não só honra a dignidade humana como tem um significado terapêutico. Se as nossas intervenções não forem humanas eles não têm significado terapêutico e nessa medida não promovem a elaboração psicológica. A responsabilidade do terapeuta não é para com a psicoterapia/as teorias, mas para ajudar o paciente a realizar o trabalho psicológico que ele precisa a fim de poder viver de maneira diferente.

 
Aspectos gerais sobre Psicoterapia:

A Psicoterapia é um método de tratamento que se traduz na aplicação dos conhecimentos da Psicologia e da Psicopatologia. Trata-se de um instrumento valioso para lidar com as várias formas que o sofrimento humano pode assumir.

O tratamento psicoterapêutico ocupa actualmente um lugar importante na área da saúde ao propiciar uma visão integrada do homem, considerando as dimensões, orgânica, psíquica e social.

Mais de um século de pesquisas e desenvolvimento permitem que as Psicoterapias alcancem actualmente resultados significativos e efectivos, em relação a outras opções terapêuticas (Shedler, 2010).

No geral, os prazos de tratamento dependem dos objectivos e da gravidade do problema. Há terapias focadas em objectivos específicos que conseguem atingir resultados significativos em períodos inferiores a um ano. Há casos que obrigam a um trabalho psicoterapêutico mais demorado, dependendo problemática Estas psicoterapias podem necessitar de anos de trabalho contínuo, compensados por mudanças significativas.

Apesar de poder ser considerado, à primeira vista, um tratamento oneroso em termos de tempo e dinheiro, a psicoterapia tem-se mostrado, efectivamente, uma forma económica de tratamento. Pesquisas recentes mostram, por exemplo, que a psicoterapia diminui os índices de consumo de medicamentos e de internamentos hospitalares (Gabbard et al., 1997). É também considerada uma opção economicamente compensadora, por prevenir e eliminar problemas psicológicos que, quando não resolvidos adequadamente, levam a enormes prejuízos para as pessoas (Gabbard, 2001).

 
 
Psicoterapia