quarta-feira, 4 de julho de 2012

O que é uma psicoterapia? A minha ou a sua?


Quando o meu amigo Tristan Walker (incansável a colaborar no site) me pediu para escrever sobre psicoterapia, fiz uma busca na internet e verifiquei que quase todos os sites/blogues dizem coisas parecidas de maneiras diferentes. Ao ler senti que aqueles textos pouco dizem sobre um processo/experiência/relação intensa e profunda como é uma psicoterapia. Tratam-se de descrições com detalhes herméticos e ao mesmo tempo, vazias no essencial, dando a entender que as pessoas são todas iguais e que se devem encaixar num modelo psicoterapêutico em vez de ser a psicoterapia a ajustar-se à pessoa, no seu sofrimento pessoal, na sua singularidade, naquilo que tem de único.

Uma psicoterapia é uma experiência emocional vivida. Como tal, ela não pode, na verdade, ser traduzida, transcrita, explicada, compreendida ou contada em palavras. Ela é o que é. Qualquer esforço para a descrever ficará sempre aquém da experiência. Compreendo que as pessoas procurem saber algo de concreto, algo que as ajude a criar uma ideia sobre a dita Psicoterapia e com a ajuda dessas descrições, efectivamente a construam. No entanto, podem ler-se vários livros sobre cães mas se o leitor não tiver experienciado um cão vivo, não vai saber o que é um cão.

Tenho para mim que uma psicoterapia que promova a mudança/crescimento psicológico, ou seja, a expansão da capacidade de experimentar todo o espectro de sentimentos que podem ir da alegria à tristeza mais profunda e até ao colapso psicológico, necessita assentar em valores. Não se trata, neste caso, de valores morais ou éticos, mas valores psicoterapêuticos – respeito, verdade, responsabilidade – dos quais não se deve abrir mão.

Recentemente fui procurado por uma pessoa interessada em iniciar uma psicoterapia.

“ …contínuo a pensar que não me pode ajudar, e o Dr. deve estar a perguntar, se eu acho que não me pode ajudar porque estou aqui? Nos últimos anos tenho coleccionado garantias e promessas de resolução dos meus problemas. Quando lhe perguntei, na primeira consulta, se me podia ajudar você respondeu que não sabia, que não podia responder com a certeza de que me podia ajudar. Para quem está farto de mentiras a sua sinceridade, ainda que não tenha sido música para os meus ouvidos, foi importante para mim.”

Neste caso, a opção foi, parar e pensar. Parece-me importante que o tenha feito, interrompendo a roda-viva de saltar de consultório em consultório, à procura de uma bela melodia para os seus ouvidos. Talvez se tenha aberto para o paciente uma frincha na janela do “não saber”. O terapeuta deve ser capaz de tolerar e de ajudar o paciente a lidar com o “não saber”. O “não saber” é uma pré-condição para ser capaz de pensar, de imaginar. A imaginação, ao contrário da fantasia, que é rígida e repetitiva, mantém aberta uma multiplicidade de possibilidades de experimentação emocional.

Terapeuta e paciente devem estar empenhados no esforço de encarar a verdade, de serem honestos consigo mesmos em face da experiência emocional perturbadora. Este esforço está no âmago do processo terapêutico e dá-lhe uma direcção. Não se trata de uma busca da verdade mas do que é verdadeiro em relação ao que está acontecer no processo terapêutico, criando assim, um contexto humano no qual o paciente possa ser capaz de viver a sua experiência emocional passada e presente. Ao ajudar o paciente a enfrentar a verdade da sua experiência emocional o terapeuta deve respeitar as formas que este encontrou para manter a sua sanidade. A velocidade e o ritmo dos esforços para encarar a verdade da sua experiência emocional devem ser determinados pelo próprio paciente.

O respeito que o terapeuta deve ter para com o paciente e pelo sofrimento que ele e aqueles que lhe são próximos vivem, não só honra a dignidade humana como tem um significado terapêutico. Se as nossas intervenções não forem humanas eles não têm significado terapêutico e nessa medida não promovem a elaboração psicológica. A responsabilidade do terapeuta não é para com a psicoterapia/as teorias, mas para ajudar o paciente a realizar o trabalho psicológico que ele precisa a fim de poder viver de maneira diferente.

 
Aspectos gerais sobre Psicoterapia:

A Psicoterapia é um método de tratamento que se traduz na aplicação dos conhecimentos da Psicologia e da Psicopatologia. Trata-se de um instrumento valioso para lidar com as várias formas que o sofrimento humano pode assumir.

O tratamento psicoterapêutico ocupa actualmente um lugar importante na área da saúde ao propiciar uma visão integrada do homem, considerando as dimensões, orgânica, psíquica e social.

Mais de um século de pesquisas e desenvolvimento permitem que as Psicoterapias alcancem actualmente resultados significativos e efectivos, em relação a outras opções terapêuticas (Shedler, 2010).

No geral, os prazos de tratamento dependem dos objectivos e da gravidade do problema. Há terapias focadas em objectivos específicos que conseguem atingir resultados significativos em períodos inferiores a um ano. Há casos que obrigam a um trabalho psicoterapêutico mais demorado, dependendo problemática Estas psicoterapias podem necessitar de anos de trabalho contínuo, compensados por mudanças significativas.

Apesar de poder ser considerado, à primeira vista, um tratamento oneroso em termos de tempo e dinheiro, a psicoterapia tem-se mostrado, efectivamente, uma forma económica de tratamento. Pesquisas recentes mostram, por exemplo, que a psicoterapia diminui os índices de consumo de medicamentos e de internamentos hospitalares (Gabbard et al., 1997). É também considerada uma opção economicamente compensadora, por prevenir e eliminar problemas psicológicos que, quando não resolvidos adequadamente, levam a enormes prejuízos para as pessoas (Gabbard, 2001).

 
 
Psicoterapia

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