quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Baby Blues


Do ponto de vista fisiológico é uma reacção legítima, e acrescente-se, desejável. Segundo as estatísticas o baby blues é bastante frequente, oscilando entre os 70 a 90%. Não é, portanto, razão para alarme.

O baby blues correspondendo a um ciclo humano natural que aparece por volta do 3º ou 4º após o nascimento. Da parte do bebé inicia-se um tipo de comunicação diferente com a mãe, agora, ele dirige-se a ela esboçando um de diálogo (com o outro). A mãe, por sua vez, constata que o seu filho não é parte dela, estão separados, são dois e não um, como até então. Assim, esta realidade vivida no corpo, nas suas percepções e nos seus pensamentos, deprimi-a.

A depressão pós-parto, ao contrário do baby blues, que se esbate sozinho, é mais grave e habitualmente, surge mais tarde. Em alguns casos essa depressão corresponde a um baby blues que se perpétua.

Neste período (raramente) também pode surgir uma psicose puerperal, ou uma depressão melancólica. Nesta caso, estamos a falar de sujeitos com fragilidades conhecidas, que se agudizam com o nascimento de um filho. Portanto, pode dizer-se, que o nascimento faz despoletar um desequilíbrio latente.

Ao contrário do que habitualmente se refere, o baby blues não resulta exclusivamente de uma questão hormonal. Situações em que a criança foi afastada da mãe, por exemplo, para a neonatologia, as mães não fizeram o baby blues no período habitual (3º, 4º dia), mas mais tarde, quando reencontram o filho. Estas mulheres também estavam deprimidas mas não usavam as expressões das “mães baby blues”: “Não sei porque estou a chorar, tenho tudo o que preciso para estar feliz”.


Psicoterapia

Diálogos, monólogos e solilóquios

Saudades de ter saudades...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Psicofármacos – É uma questão de custos e benefícios


Quando no âmbito do meu trabalho é solicitada a minha opinião sobre a medicação, a resposta que dou, e suponho, continue a dar, é a mesma: é tudo uma questão de custos/benefícios.
O ser contra ou a favor parece-me uma forma redutora de abordar a questão.
Pode, e deve-se discutir a representação que tem nos dias de hoje a medicação como forma de viver os problemas. Dado que o crescimento desenfreado do consumo não parece abrandar, é  urgente fazê-lo.
Isto vem a propósito de mais um estudo sobre psicofármacos – Benzodiazepinas: diazepam (Valium), alprazolam (Xanax) – publicado no British Medical Journal.
Na generalidade, os estudos que não são feitos pela indústria farmacêutica, apresentam resultados que devem deixar qualquer um apreensivo, não só quanto à sua eficácia, como, no que diz respeito aos efeitos secundários. Isto, por si só, já daria uma interessante discussão.
A outra questão é saber se há indicação para tratamento psicofarmacológico. Em grande parte dos casos sabemos que não. Como resultado, portugal apresenta taxas muito altas (e crescentes) deste tipo de fármacos. Uma vez que esta medicação tem muitos efeitos secundários, é necessário que seja prescrita com muito rigor.
Segundo o que me é dado a entender, aos pacientes não é colocada a questão do custo/benefício para poder escolher livremente. Nem tão pouco, se existem alternativas. Assim, sem o esclarecimento que lhe é devido, acaba por tacitamente aceitar o lhe é proposto.
As boas práticas sobre o consumo de Benzodiazepinas, como refere a agência europeia do medicamento, não deve ultrapassar algumas semanas, mas como é sabido elas ultrapassam muitas vezes um ano e em alguns casos há um consumo crónico.
É fundamental informar os pacientes do custo/benefício e das alternativas existentes.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

– Se eu quisesse, enlouquecia.


ESTILO

 – Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio… Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro… Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida… compreende?… a nossa vida, a vida inteira, está ali como… como um acontecimento excessivo… Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é o modo subtil de transferir a confusão e a violência da vida para um plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos? (...)


Herberto Helder, in Os Passos em Volta, 1963




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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Masturbação?


Recentemente, em casa de uns amigos, passou-se o seguinte:
O filho deles andava aos saltos de um lado para o outro, mas a mão, raramente se desprendia dos calções.
Não estará com vontade de fazer chichi, alguém perguntou. Descontraidamente, o pai respondeu, “está entretido…”
A manipulação dos órgãos genitais está associada à masturbação, mas para ser considerada masturbação falta o essencial, a fantasia.
A masturbação com um verdadeiro significado sexual é praticada em segredo, às escondidas e não no meio da sala para todas as pessoas verem.
Os pais apercebem-se do que está acontecer e, felizmente, a maioria faz vista grossa à exploração que a criança faz do corpo. Naturalmente, descobre que há partes mais agradáveis que outras. Provavelmente, passa mais despercebido, mas é habitual encontrar-se crianças entretidas com o lóbulo da orelha ou a fazer caracóis com o cabelo.
Destituir de qualquer tipo de significado a manipulação dos genitais é cair no oposto. Esta exploração passageira do corpo liga-se com emoções e fantasias vagas que prepara a sexualidade adulta.
Nos adultos a vida sexual infantil está reprimida, esquecida, sendo que muitos ficam angustiados com esta fase dos seus filhos, e são excessivamente severos em relação a este comportamento.
É importante que os pais/educadores possam entender e aceitar esta fase como fazendo parte do desenvolvimento, e preparação para uma vida sexual adulta e satisfatória.



psicologia clínica