terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Normopatia - a doença da normalidade



As doenças mentais não são nem doenças, no sentido de um processo mórbido natural, que se infiltra no cérebro dos indivíduos seguindo um curso inexorável e previsível; nem mentais, no sentido de uma deformação da personalidade. As doenças mentais, ou melhor, seus sintomas, realizam possibilidades universais do sujeito, que se tornam coercitivamente particulares ou privativamente necessárias. Em outras palavras, um sintoma é um fragmento de liberdade perdida, imposto a si ou aos outros. Por isso há algo que concerne a todos, universalmente, em cada uma das formas particulares de sofrimento. Assim, a normalidade é apenas normopatia, ou seja, excesso de adaptação ao mundo tal como ele se apresenta e, no fundo, um sintoma cuja tolerância ao sofrimento se mostra elevada.



Christian Ingo Lenz Dunker – O real e a verdade do sofrimento 

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Psicoterapia

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Uma certa anormalidade



“Personne ne se rend compte que certaines personnes dépensent beaucoup d'énergie simplement pour Camus être normale.” - Albert Camus

"Ninguém percebe que algumas pessoas gastam uma enorme energia, simplesmente, para serem normais." - Albert Camus

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psicologia clínica

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Inato ou adquirido?




psicologia clínica

Repressão

A Repressão e o Reprimido
Num sentido lato, a repressão é designada como a operação psíquica tendente a fazer desaparecer da consciência um conteúdo (ideia, afecto, etc.) desagradável ou inoportuno. Nesse sentido o recalcamento seria uma modalidade especial de repressão.
No sentido mais frequente, a repressão, opõe-se, sobretudo, do ponto de vista tópico ao recalcamento, quer pelo carácter consciente da operação, quer pelo facto do conteúdo reprimido se tornar simplesmente pré-consciente e não inconsciente.
Segundo Laplanche & Pontalis, a repressão seria um mecanismo consciente actuando ao nível da “segunda censura”, que Freud situa entre o consciente e o pré-consciente; tratar-se-ia de uma exclusão para fora da consciência actual, e não da passagem de um sistema (pré-consciente-consciente) para outro (inconsciente).

Do ponto de vista dinâmico, as motivações morais desempenham um papel determinante na repressão.
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psicologia clínica

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A casa


Esta é uma impressionante foto de Teresa, uma menina polaca, sobrevivente de um campo de concentração. No quadro está desenhado aquilo que ela descreveu como sendo a sua casa. A casa, que simboliza o lugar onde são procurados o afecto e a segurança, aparece aqui representada de forma completamente caótica. Não há paredes, portas, janelas ou telhado. É provavelmente, um dos desenhos que melhor descreve a loucura que é a existência de um campo de concentração.

O desenho infantil é uma técnica usada na psicoterapia de crianças. É um instrumento de auxílio à barreira da linguagem. O desenho permite a emergência de subtilezas que estão para além da capacidade verbal. Através dos desenhos e sua interpretação subjectiva, procura-se chegar aos significados, às representações da realidade vivida pela criança.


Photo by David Seymour, 1948


psicologia clínica

Amigos imaginários

Os amigos imaginários não se constituem como alucinações que a criança vê fora de si, embora, em alguns casos, isso possa acontecer. As crianças acreditam na sua existência real, procuram a sua companhia e conversam com eles. Estes amigos imaginários ao auxiliarem a criança na elaboração de angústias e ansiedades têm um papel importante na constituição do Eu. Estes também podem surgir quando a criança experimenta uma perda real ou fantasiada. O amigo imaginário pode desdobrar-se em múltiplas personagens que actuam num teatro interno. À medida que o Eu da criança se estrutura e vai sendo capaz de fazer frente a conflitos e aspectos contraditórios eles tendem a desaparecer. Em alguns casos (raros), quando as condições para o seu desaparecimento não se verificaram eles permanecem, tornando-se aspectos cindidos da personalidade.

Numa fase em que as crianças têm poucos amigos reais, os imaginários desempenham um papel importante na ampliação do mundo social da criança. Através dos vários papeis que os amigos imaginários vão desempenhando a criança vai experimentando sobre vários pontos de vista as relações humanas no mundo dos adultos. À medida que se ampliam o número de amizades, os amigos imaginários vão-se tornando menos interessantes até ficarem para trás. Isto não quer dizer que perante uma dificuldade, uma desilusão, a criança não recorra esporadicamente a ele para partilhar a tristeza, ou descarregar a raiva que está a sentir. Às vezes fazem muita falta!


psicologia clínica

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Diálogos, monólogos e solilóquios


Às vezes, por muito que um pai queira acabar com o sofrimento de um filho, isso não é possível. O mais que consegue é sofrer com ele. Não, não é uma lamechice, é a puta da realidade.


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Psicoterapia

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A tirania do espírito positivo


Ao ler um artigo no jornal Público – “Cancro:afinal, é permitido chorar”, deparei-me com a expressão: “a tirania do espírito positivo”.
Arregalei os olhos, e disse “Finalmente!”
Para bem de todos, mas principalmente para os doentes que se encontram num enorme sofrimento, desmonta-se a ideia de que o espírito positivo é uma panaceia.
É muito provável que os primeiros (naturais e compreensíveis) sentimentos após um diagnóstico de cancro, sejam de medo, de injustiça, de revolta, de raiva; “Porquê a mim?” Não muito distante destes deve andar a tristeza.
Pode ser que esteja enganado, que esteja só a falar por mim. Pode ser que eu seja um pessimista e por isso não consiga ver o sol a brilhar quando inesperadamente se abre uma janela para a escuridão.
É muito importante reconfortar alguém que está num grande sofrimento, que além do mais, também nos toca profundamente. Mas se conseguirmos resistir às frases feitas e der-mos espaço ao outro para lidar com a sua dor, marcarmos a nossa presença e disponibilidade, então, estamos a ser uma verdadeira ajuda.
Se já reconfortou alguém, usando alguma frase feita, não se preocupe, ainda não é considerado um “tirano do espírito positivo”. Para ser um verdadeiro “tirano”, precisa fazer sentir ao outro que esses sentimentos são maus, que lhe fazem mal, e se não os tivesse, provavelmente, a sua vida seria muito melhor.
“A tirania do espírito positivo”, que se tenta eliminar na oncologia está profundamente enraizada e tem ferozes defensores. Ela encontrará mais seguidores junto dos que estão impossibilitados de ser honestos com o que estão a sentir.
O nosso papel é ajudar o outro a construir uma narrativa sobre a dor, e dessa forma libertá-lo da tirania do espírito positivo.
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psicologia clínica