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domingo, 9 de junho de 2013

A realidade adora humilhar a ficção


E se um dia o médico dissesse:

- Vamos parar com a medicação do seu filho, ele não está doente, o transtorno do défice de atenção com hiperactividade não existe, é uma doença inventada.

INVENTOR OF ADHD'S DEATHBED CONFESSION: "ADHD IS A FICTITIOUS DISEASE"

Fique tranquilo, isso não vai acontecer, felizmente, o seu filho contínua doente!

O seu médico pode ser considerado tão vítima quanto você, mas situa-se numa escala de responsabilidade diferente. A um médico exige-se muito mais conhecimento e capacidade de questionar um diagnóstico do que se exige a um pai. Apesar disso, existem muitos pais que consideram que os diagnósticos feitos aos seus filhos não se justificam.


Um conhecimento mais aprofundado e rigoroso do funcionamento mental das crianças e até algum senso comum, levaria os técnicos a questionar, por exemplo, o que se passa na família. Está tudo bem com os pais? Estão a divorciar-se? Os pais estão a sofrer com o desemprego? Nasceu um irmão? Morreu um avô? A criança perdeu os amigos porque mudou de escola? Etc. etc. … Imagino que tudo isto esteja a parecer óbvio. Enganem-se, isto não é relevante. O importante é: “nunca está quieto, anda sempre nas nuvens, está sempre desatento, os resultados na escola estão piores….” Qual é o interesse em saber se a criança mudou de escola? Não há nada a fazer, não podemos voltar para a escola antiga, logo a criança sofre de TDAH.


Tudo aquilo que os pais descrevem aos médicos é real, está efectivamente a passar-se com os seus filhos, não é uma invenção, somente, não é uma doença mental.



Psicoterapia

terça-feira, 23 de abril de 2013

No colo aprendi a amar

Num post anterior dei conta de um estudo da FPCE-UC onde se concluía que: “Brincar 10 minutos diários com os filhos em idade pré-escolar, sem direito a fazer mais nada em simultâneo, e de forma cooperativa, contribui para reduzir os distúrbios de comportamento, como p. ex., hiperatividade, défice de atenção, oposição (a criança opõe-se a qualquer ordem do adulto) e desafio e agressividade.”

Agora surge um estudo desenvolvido no Japão pelo Dr. Kumi Kuroda (Riken Brain Science Institute) com resultados, passe a ironia, absolutamente inesperados: os bebés acalmam quando são colocados no colo.

Durante décadas os pais foram bombardeados com dezenas de teorias estapafúrdias que ensinavam a cuidar dos filhos. Os especialistas na matéria, pediatras e psicólogos, venderam milhares de livros “revolucionando” a forma de educar. Técnicas para lidar com choros, birras etc., foram desenvolvidas com base em preconceitos (e muita ciência, sempre muita ciência) e, invariavelmente, descentrando-se do principal: “A criança”.

Resultado: os pais perderam a espontaneidade, a sua capacidade instintiva de cuidar (que passa de pais para filhos). Em vez de se desenvolver um vínculo seguro através do estabelecimento de uma boa relação - objectivo primeiro -, instrumentalizou-se a relação humana precoce. É um exagero dizer que os inúmeros diagnósticos de hiperactividade estão relacionados com este tipo de relação, até porque muitos desses diagnósticos estão errados, mas como a sabedoria popular nos ensina: “quem semeia ventos colhe tempestades”.

Nunca imaginei poder dizer que estes estudos são muito bem-vindos, nem imaginei sequer, que fossem desenvolvidos e que tivessem esta divulgação. Mas eles aí estão, para nos dizerem o que todos sabíamos.


psicologia clínica

terça-feira, 16 de abril de 2013

Chover no molhado ou, nem por isso….

Numa fase em que parece que tudo tem que ser estudado, tem que ser comprovado para que as pessoas prestem alguma atenção e, quem sabe, as ponham em prática, acho bem que saiam estas notícias. Mas também devemos colocar a questão: Isto é realmente uma conclusão nova? Não sabíamos todos isto? Então desculpem que diga, se não sabiam deviam saber!

“Brincar 10 minutos diários com os filhos em idade pré-escolar, sem direito a fazer mais nada em simultâneo, e de forma cooperativa, contribui para reduzir os distúrbios de comportamento, como p. ex., hiperatividade, défice de atenção, oposição (a criança opõe-se a qualquer ordem do adulto) e desafio e agressividade, comprova um estudo da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.”

O estudo foi efectuado com crianças com problemas de comportamento diagnosticados e, segundo os resultados, com sucesso, pois verificou-se uma redução de sintomatologias de hiperatividade, défice de atenção e oposição e desafio, agressividade e impulsividade.

Embora o estudo se tenha focado na intervenção em famílias de crianças com diagnóstico clínico, a investigadora defende que o programa é também essencial para atuar «ao nível da prevenção de futuros comportamentos desviantes. Todos os pais deveriam ter acesso gratuito ao programa nos centros de saúde, tal como têm acesso a vacinas, ou nos jardins-de-infância».

A investigadora Maria Filomena Gaspar defende que o programa é também essencial para actuar «ao nível da prevenção de futuros comportamentos desviantes”. Desculpem colocar outra questão: Se os pais brincassem mais com os filhos, colocassem regras e limites não se evitariam muitos diagnósticos clínicos?

Se forem precisos estudos para nos dizer que temos que brincar com os nossos filhos, estamos mal, estamos muito mal!


psicologia clínica

terça-feira, 19 de março de 2013

“Crónico” quer dizer para a vida toda?


O artigo Why ADHD is Not Just a Problem for Kids, publicado na revista Time começa com uma frase bastante enigmática, que ainda não consegui descodificar “The effects of attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) can extend well beyond childhood, according to the latest research”.

 Os efeitos? Poderia ficar aqui às voltas com os “efeitos” o resto do dia, mas provavelmente a jornalista não estava muito ciente do que estava a escrever, na verdade, até é desculpável, uma vez que as citações de um dos autores do estudo são bastante ambíguas para não dizer, tendencialmente erróneas.

Num estudo realizado por pesquisadores do Hospital infantil de Boston e da Mayo Clinic, concluiu-se que 29,3% das crianças às quais foi diagnosticado distúrbio da hiperactividade com défice de atenção (TDAH), ainda o apresenta em adulto, juntamente com o aumento da taxa de outros problemas psiquiátricos.

Só 29,3%? Tendo em conta que o intervalo considerado anteriormente ia dos 6% aos 66%, o valor até não é muito mau.

W. Barbaresi, um dos autores do estudo, refere com aparente pesar que se banalizou a questão e que temos que reconhecer que a TDAH é uma doença crónica. E assim, num abrir e fechar de olhos, condenou milhares de crianças para o resto da vida ao simpático rótulo de “doentes mentais”.

Barbaresi, com a sua autoridade científica refere: “temos que parar de banalizar a TDAH como sendo apenas um problema de comportamento na infância”. Mas então, é um problema de comportamento ou uma doença? Se é apenas um problema de comportamento porque se estão a drogar crianças como se fosse uma punição? - Se não te portas bem ponho-te a tomar Ritalina!

O Sr. Barbaresi sabe muito bem que não há qualquer tipo de banalização, muito pelo contrário, a cada esquina está uma criança com TDAH. Milhões no mundo inteiro. A banalização está exactamente na forma como se atribui um diagnóstico que condena uma criança para a vida toda.

O que realmente preocupa muito o Sr. Barbaresi - a tal banalização - é o receio que os pais, quando os filhos crescerem, decidam deixar de os medicar, ou eles, por iniciativa própria, deixem a medicação. Mas pode dormir descansado, a malha é tão apertada que só alguns conseguiram escapar.

Como provam os dados, dos adultos que tinham TDAH 81% apresentava pelo menos mais um transtorno psiquiátrico adicional. Dos que não apresentavam sinais da doença, 47% tinha pelo menos mais um diagnóstico psiquiátrico.

Para terminar o Sr. Barbaresi escancara as portas do inferno: “Temos que parar de banalizar o TDAH como sendo apenas um problema comportamento da infância. A natureza e duração deste estudo mostram que temos de reconhecê-lo como um problema de saúde crónico grave que merece muito mais atenção do que tem recebido (…) o legado e as implicações a longo prazo de um diagnóstico de TDAH não foram realmente consideradas e estudadas de forma adequada, uma vez que a maioria dos médicos tendem a pensar a condição como afectando principalmente crianças, que tendem a superar uma vez que atingem a idade adulta.”

O que nos deve preocupar muito são os Srs. Barbaresis, que de ânimo leve e com uma preocupação perversa, distorcem a ordem das coisas. O que o Sr. Barbaresi não conclui, nem nunca irá concluir, mas que os resultados comprovam é que quando a criança cai nas malhas da TDAH arrisca-se com alta probabilidade a ser um doente mental crónico.

Desculpem o sublinhado: “crónicos” quer dizer, para a vida toda. TODA.


psicologia clínica

quinta-feira, 7 de março de 2013

E se parasse de fazer perguntas parvas!?


Se a psiquiatria clássica, de forma geral, esteve às voltas com fenômenos psíquicos não codificáveis em termos do funcionamento orgânico, guardando espaço à dimensão enigmática da subjetividade, a psiquiatria contemporânea promove uma naturalização do fenômeno humano e uma subordinação do sujeito à bioquímica cerebral, somente regulável por uso de remédios. Há aí uma inversão não pouco assustadora, pois na lógica atual de construção diagnóstica, o remédio participa da nomeação do transtorno. Visto que não há mais uma etiologia (estudo das causas da doença) e uma historicidade a serem consideradas, pois a verdade do sintoma/transtorno está no funcionamento bioquímico, e os efeitos da medicação dão validade a um ou outro diagnóstico. 
psicologia clínica

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ó tempo volta pra trás. Já!




“Foi-se o tempo em que … bastava “apenas um olhar do pai” para que as crianças se reposicionassem no seu lugar de filho.“Nesse outro tempo” tínhamos a impressão que tudo tinha o seu “lugar”.

Nessa época não se ouvia falar em hieractividade. As crianças eram definidas como seres mal-educados que precisavam de uma educação rígida e rigorosa para se tronarem adultos civilizados.

…a religião e a tradição asseguravam o lugar do pai na família. … a autoridade do pai era sustentada não apenas pela mãe dentro de casa, mas, na esfera pública e politica, através da religião e dos costumes. Nesse mesmo lastro residia a autoridade do professor e dos adultos em geral.

Esse cenário começou a mudar a partir de um longo processo de transformações históricas e sociais que solapou a tradição e a religião enquanto organizadores da família e da sociedade.

A valorização da criança produzida pelo capitalismo, em que a mesma passou a sustentar a promessa de fabricação do adulto de futuro, produziu não apenas a valorização da mulher como mãe, mas, instituiu uma preocupação do estado em limitar e regular cada vez mais os poderes do pai, visando proteger a mulher e os filhos da sua arbitrariedade.

O filho tornou-se propriedade privada da mulher-mãe. Ao pai, restou um colchão ao lado da cama do casal, agora ocupado pela mãe e pelo filho. Quando ele intervém, é logo interpelado pela sua mulher com um “cala a boca, você não sabe nada”. O homem-pai viu-se reduzido a uma criança que não sabe nada, nem sobre a vida doméstica nem sobre os filhos. Ela briga com ele como briga com uma criança: “não faça isso! Faça aquilo. Você não sabe de nada!” Diante dessa mãe omnipotente, o homem viu-se reduzido a uma criança impotente.

Pois bem, se na família patriarcal a autoridade era atribuída ao pai, na família moderna a mãe passou a ocupar esse lugar.

 Diante da crise de referências instituída a partir da queda da tradição, o pai, não sabendo qual seu lugar, viu-se reduzido a uma condição infantil, ora toma a mãe como modelo de relação com os filhos, funcionando como uma “segunda mãe”, ora se identifica com a criança, demandando à mãe mais cuidados do que deveria.

Como consequência dessa crise de referências, temos encontrado um cenário muito assustador: crianças que dormem com os pais, ainda usam fraldas apesar da idade, têm dentes mas ainda tomam mamadeira. São grandes em peso e altura, mas vivem no colo dos pais.

As crianças não conhecem a frustração. Privadas da intervenção educativa, pouco a pouco vão-se tornando pequenos monstros assustadores e demandantes: querem “tudo” e ao mesmo tempo “nada”. As crianças tornaram-se pequenos tiranos e os pais escravos da tirania dos filhos.

Quando essas crianças chegam à escola … não conseguem concentrar-se e não aprendem.

Ao não reconhecer a desorganização da criança como proveniente da sua própria renúncia, os pais recorrem a um “outro-especialista” buscando uma resposta sobre o que se passa com o seu filho. Este por sua vez, capturado numa formação organicista pautada no modelo biomédico – modelo que reduz todo e qualquer problemática humana a um defeito no funcionamento biológico – vê-se obrigado a diagnosticar a má educação da criança como hiperactividade.

Impotentes face à demanda dos pais e das escolas, os médicos medicam. Aliás, o que poderiam fazer além de medicar? … Talvez os médicos pudessem dizer: ”Seu filho precisa limites!!!”. Mas certamente seriam considerados maus médicos. Pois, ao denunciar a necessidade de limites, denunciariam as renúncias educativas dos pais!

Não sabendo o que fazer com os pequenos tiranos, solicitam à ciência e à medicina algum limite, mesmo que seja químico!

Como sabemos, um adulto precisa aprender a viver e a ter horários para dormir, assim como o adolescente precisa aprender modos de relacionamento com o outro para transar. Por isso fica a pergunta: Será que uma criança poderia prescindir dos adultos para se tornar civilizada? Ou de facto acreditam que uma dose diária da “droga” seria suficiente para educá-la? Depois não me venham com campanhas “Crack nem pensar!!!”


Transcrição parcial (adaptada) do artigo: A fabricação da loucura na infância, Michele Kamers




psicologia clínica

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Hiperactividade a quanto obrigas


Criança de seis anos impedida de entrar na escola por ser hiperactiva.

Alguém ficará admirado se esta criança voltar a entrar nesta escola ou noutra escola qualquer e começar a comportar-se pior que nunca? Eu não. Ela vai simplesmente responder com a moeda dela – agressividade –, à exclusão e humilhação a que tem sido sujeita. A escola não conseguiu acolher/compreender esta criança, que na sua história já sofreu outra grande exclusão – os pais –, que a deixaram, quando tinha um ano, a cargo dos avós. Se a escola só servir para ensinar a tabuada e o abecedário então é melhor que feche as portas. Esta criança, considerada doentinha da cabeça, conserva – ainda - alguma saúde mental. A sua capacidade de reagir, de mostrar pelos seus meios - que as crianças dispõem -, que não aceita ser mal tratada é prova disso. E o maluco sou eu!

 posts relacionados: Distúrbio da Hiperactividade com Défice de Atenção  ; “Crónico” quer dizer para a vida toda?

psicologia clínica

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Distúrbio da Hiperactividade com Défice de Atenção

Nos últimos 30 anos, o PHDA (distúrbio da hiperactividade com défice de atenção) parece ter-se tornado numa epidemia na nossa sociedade, com uma em cada 10 de todas as crianças de dez anos de idade medicada para estes sintomas. Os pais cujos filhos apresentam estes sintomas têm que decidir, se o filho deve ou não ser medicado, na maioria das vezes, sem terem informação suficiente. Para além do mais, há um problema identificado; os pais estão pressionados para agir. Com o intuito de poder ajudar os pais a decidir, Aqui fica um artigo recentemente publicado no New York Times: "Ritalin Gone Wrong" de L. Alan Sroufe.



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