segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Um entristecido adeus à infância


Crescer é abdicar dos sonhos de infância e aceitar o nosso passado com todas as imperfeições que possa ter tido. É viver entre um entristecido adeus à infância – ou seja, a si mesmo e aos objectos do passado – e à superação gradual, ansiosa e esperançada, de muitas barreiras até à entrada no desconhecido mundo da vida adulta.
Na adolescência – onde se vivenciam estados afectivos de luto e paixão – dá-se um corte com as ligações da infância e com a dependência dos pais. O jovem estabelece novos vínculos e adquire capacidade para novas experiências afectivas e sexuais. Desidealiza as figuras parentais e procura novos modelos exteriores. Para além da mudança de objecto de amor, há também mudança de objectivos. Os interesses deixam de ser quase exclusivamente narcísicos (característicos da infância) para passarem a ser sociais.
O desejo de parar o tempo, a mudança, pode ser considerada uma excepção, que se deve, essencialmente, a uma incapacidade de enfrentar o novo. No desenvolvimento normal, em contraposição à tendência de manutenção do estado original de fusão, há um impulso à diferenciação e individuação que visa a aquisição e estabelecimento da identidade.
Impossibilitado da fazer a “passagem”, o jovem em desenvolvimento fica amarrado às coisas conhecidas e controláveis (próprias do universo infantil) que produzem um sentimento de segurança. Aqueles que não podem desfrutar das coisas transitórias da vida (como acontece na evolução), perder umas para se ganhar outras, são os que na sua história pessoal sentiram as mudanças de forma catastrófica, ao ponto de predominarem os sentimentos de angústia e vivências de perda.
Perante o choque entre forças progressivas e regressivas prevalece a expectativa de uma independência com realizações pessoais e prazeres por satisfazer ao abrigo de uma genitalidade crescente e desejante como impulso para a independência e liberdade. O desejo que a criança tem de ocupar o lugar do adulto (o lugar entre os adultos) pode finalmente ser realizado, elaborando os sentimentos de perda e deixando-se capturar e fascinar pelos encantos do novo.
psicologia clínica

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