segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Notas sobre Os Ataques de Pânico # 1


Os ataques de pânico – brutais, incompreensíveis, repetitivos – não parecem remeter a nada senão a eles mesmos, constituindo-se aparentemente uma experiência de pura perda. Aos olhos de quem os experimenta, tais ataques podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica. Eles apresentam-se como “espontâneos” e “incompreensíveis”.

O pânico apresenta-se antes de mais nada como esmagamento da linguagem, mutismo e paralisia, colocando o sujeito necessariamente na situação de só poder falar da sua aterradora vivência psíquica a posteriori [nachtraglich], num tempo em que não se está mais em pânico.

(…) o pânico é o estado afectivo que se instaura quando o aparelho psíquico, vendo-se radicalmente confrontado com a Hilflosigkeit – sua dimensão de desamparo fundamental – descobre, com terror, que o lugar onde esperava encontrar a presença concreta de um fiador da estabilidade do seu mundo está fundamentalmente vazio.

Tal confrontação, para resultar em pânico, implica (…) que até ao momento das crises, a dimensão de desamparo da linguagem havia sido “tamponada” naquele sujeito pela presença concreta de “objectos-fiadores” que permitiam a manutenção inalterada de uma ilusão de se estar totalmente protegido por um ser omnipotente, imortal e benfazejo.


Por vezes, a própria questão de falta de garantias sequer chega a ser colocada. O pânico instaura-se num momento de derrocada desse sistema de ilusões. (…) Instala-se, portanto, em momentos em que o aparelho psíquico se vê obrigado a reconhecer os limites enquanto tais, de suas possibilidades de simbolização, mas não suporta nem o peso nem as consequências desse reconhecimento, dado que a existência de tais limites passa a ser vivenciada como uma ameaça iminente de desabamento do mundo simbolicamente organizado.



In Pânico e Desamparo
Mário Eduardo C. Pereira




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