sábado, 16 de março de 2013

O Alienista

Neste brilhante conto de Machado de Assis, publicado em 1882, o conceituado médico Simão Bacamarte resolve dedicar-se à psiquiatria dando início a um estudo sobre a loucura na Vila de Itaguaí. Simão Bacamarte, em nome da ciência, dedica-se a classificar os moradores da vila através da observação cuidada dos seus comportamentos, medindo a loucura nas suas variações e graus. À medida que ia diagnosticando os residentes de Itaguaí, Bacamarte resolvia interná-los na Casa Verde, fundada, exactamente, com esse fim. Imbuído pelos rigores da ciência acaba por internar a maioria dos habitantes da vila, inclusive, sua mulher, D. Evarista. Quando Simão Bacamarte constata que o único sadio era ele, é atormentado por uma questão ética, e como era o que se desviava do padrão, decide libertar todos o loucos e internar-se na Casa Verde, onde passados dezassete meses, morre solitário.

Infelizmente, aqueles (American Psychiatric Association) que se encontram com a divertida tarefa de criar classificações, não têm – nem podiam ter, porque são demasiados perturbados para olhar para si mesmos – o sentido ético de Simão Bacamarte, para procurar internamento. Tal como Bacamarte, imbuídos por um distorcido rigor científico, continuam a classificar os comportamentos humanos, com a lupa da moralidade, do desrespeito pela singularidade do ser humano e, como é óbvio, a servir, sem nenhum pudor, a indústria farmacêutica.

O Alienista, publicado há mais de 120 anos tem um inquestionável carácter profético. Não deixa de ser curioso que é exactamente na era das “liberdades individuais” que se assiste a um ataque a tudo o que sai fora de uma certa normalidade (cada vez mais apertada), ao sujectivo, e dessa forma, impedindo que se revele e se manifeste a alteridade.

psicologia clínica

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