segunda-feira, 21 de maio de 2012

A clínica encenada # 2



"Os meus pais não percebem o sofrimento que me causaram. Estiveram sempre focados na vida deles, nas suas coisas e eu fiquei ali, esquecida. Eles nunca serão capazes de reconhecer isso.”

Mais importante do que o conteúdo (o ressentimento), é a capacidade de olhar para trás, para a sua infância, pelos seus olhos, ao invés de ver a partir do ponto de vista dos pais (centrífugo). Este tipo de separação mental é imprescindível para o desenvolvimento. Crescer implica alterar o ponto de referência (o foco, o ângulo), a partir do qual se olha para as coisas. Helena começa a olhar para sua história através do seu olho interno, ao invés de absorver e de se contentar com a história que lhe foi contada. Começa a perceber que a perspectiva do narrador condiciona a história e que os seus pais não têm que concordar e validar a sua narrativa.

À medida que constrói a sua narrativa vai elaborando as tensões, os sentimentos de raiva, de exclusão, de inveja e ciúme em relação aos pais. Este processo permite-lhe contactar com a menina que se sentiu tão sozinha durante períodos críticos da sua infância, ajudando-a a ver que não era uma "menina má", mas que os seus pais tiveram que se concentrar na sua própria sobrevivência e, assim, tornaram-se menos atentos às suas necessidades. Agora não se culpa pelos sentimentos negativos que tinha quando era criança.

O espaço para novos sentimentos gera-se ao ritmo das elaborações. A reparação inicia-se a partir do momento em que a obstrução gerada pela incapacidade de pensar (a culpa), dá lugar à criação – pensar e pensando-me. O que é crescer senão criar e recriar-se?

 

Psicoterapia

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