O artigo Why ADHD is Not Just a Problem for Kids,
publicado na revista Time começa com
uma frase bastante enigmática, que ainda não consegui descodificar “The effects
of attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) can extend well beyond
childhood, according to the latest research”.
Os
efeitos? Poderia ficar aqui às voltas com os “efeitos” o resto do dia, mas
provavelmente a jornalista não estava muito ciente do que estava a escrever,
na verdade, até é desculpável, uma vez que as citações de um dos autores do
estudo são bastante ambíguas para não dizer, tendencialmente erróneas.
Num estudo realizado por
pesquisadores do Hospital infantil de Boston e da Mayo Clinic, concluiu-se que
29,3% das crianças às quais foi diagnosticado distúrbio da hiperactividade com
défice de atenção (TDAH), ainda o apresenta em adulto, juntamente com o aumento
da taxa de outros problemas psiquiátricos.
Só 29,3%? Tendo em conta que o
intervalo considerado anteriormente ia dos 6% aos 66%, o valor até não é muito mau.
W. Barbaresi, um dos autores do
estudo, refere com aparente pesar que se banalizou a questão e que temos que
reconhecer que a TDAH é uma doença crónica. E assim, num abrir e fechar de
olhos, condenou milhares de crianças para o resto da vida ao simpático rótulo
de “doentes mentais”.
Barbaresi, com a sua autoridade
científica refere: “temos que parar de banalizar a TDAH como sendo apenas um
problema de comportamento na infância”. Mas então, é um problema de
comportamento ou uma doença? Se é apenas um problema de comportamento porque se
estão a drogar crianças como se fosse uma punição? - Se não te portas bem
ponho-te a tomar Ritalina!
O Sr. Barbaresi sabe muito bem
que não há qualquer tipo de banalização, muito pelo contrário, a cada esquina
está uma criança com TDAH. Milhões no mundo inteiro. A banalização está
exactamente na forma como se atribui um diagnóstico que condena uma criança
para a vida toda.
O que realmente preocupa muito
o Sr. Barbaresi - a tal banalização - é o receio que os pais, quando os filhos crescerem,
decidam deixar de os medicar, ou eles, por iniciativa própria, deixem a
medicação. Mas pode dormir descansado, a malha é tão apertada que só alguns
conseguiram escapar.
Como provam os dados, dos adultos
que tinham TDAH 81% apresentava pelo menos mais um transtorno psiquiátrico
adicional. Dos que não apresentavam sinais da doença, 47% tinha pelo menos mais
um diagnóstico psiquiátrico.
Para terminar o Sr. Barbaresi
escancara as portas do inferno: “Temos que parar de banalizar o TDAH como sendo
apenas um problema comportamento da infância. A natureza e duração deste
estudo mostram que temos de reconhecê-lo como um problema de saúde crónico
grave que merece muito mais atenção do que tem recebido (…) o legado e as
implicações a longo prazo de um diagnóstico de TDAH não foram realmente
consideradas e estudadas de forma adequada, uma vez que a maioria dos médicos
tendem a pensar a condição como afectando principalmente crianças, que
tendem a superar uma vez que atingem a idade adulta.”
O que nos deve preocupar muito
são os Srs. Barbaresis, que de ânimo leve e com uma preocupação perversa, distorcem
a ordem das coisas. O que o Sr. Barbaresi não conclui, nem nunca irá concluir,
mas que os resultados comprovam é que quando a criança cai nas malhas da TDAH
arrisca-se com alta probabilidade a ser um doente mental crónico.
Desculpem o sublinhado: “crónicos”
quer dizer, para a vida toda. TODA.
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