O amor e o ódio, a relação ou a
sua ruptura não dependem apenas do querer, do ver e do saber e não são mera consequência
linear da transição existencial, do acidente ou do trauma, nem o simples
resultado do desenrolar do programa genético ou da expressão e reacção do
corpo.
São também, e essencialmente,
produto do conflito interior: dos movimentos do desejo egoísta e omnipotente e
da pulsão bruta em busca do prazer cerceados pelo medo, a culpa e a vergonha
que a percepção subjectiva da realidade social fabricam. O aparelho psíquico é
um laboratório de elaboração da experiência, previsão dos acontecimentos e
construção do projecto que funciona a maior parte do tempo abaixo do limiar de
consciência, e cujo funcionamento os sonhos, o devaneio, a associação livre, os
actos falhados e outras emergências do inconsciente nos informam.
Luz e trevas, razão e afecto,
realidade e fantasia enquadram, movem e orientam a pessoa em situação. E se o pensamento
lógico e operante (…) permite adaptação ao real, é o livre fantasiar que,
abafando por momentos o ruído do saber acumulado, gera, no silêncio feito, novo
conhecimento.
A. Coimbra de Matos
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