O pânico constitui uma
tentativa extrema de tornar o desamparo apreensível para o psíquico. A especificidade metapsicológica do pânico situa-o dentro do campo dos estados em que a angústia é extrema e transbordante.
Paradoxalmente, o sujeito em
pânico não busca escapar do incognoscível, nem dos restos irredutíveis à
simbolização. Esses constituem a fonte de onde podem jorrar e realizar-se todos
os possíveis, isto é, eles são a fonte potencial do traumático. No pânico, o
sujeito parece tentar levar a sua experiência do desamparo ao seu nível mais
extremo, mais insuportável, como uma forma de obter um certo domínio sobre ela.
Desse ponto de vista, um ataque de pânico não pode ser concebido como a
manifestação directa de uma pura descarga “automática” da energia pulsional,
mas, antes, como um forço extremo no sentido de capturar o inominável.
Ser tomado por um ataque de
pânico atesta, pois, o reconhecimento inequívoco por parte do sujeito da
dimensão de desamparo fundamental subjacente ao funcionamento psíquico.
Através do pânico busca-se um
certo domínio sobre as realizações possíveis do perigo. Trata-se, em última
instância, de uma estratégia bastante singular de eliminação do horizonte do
possível, no qual tudo o que é da ordem do terrível pode, efectivamente,
realizar-se. Tal estratégia consiste em tornar presente, imediato, aquilo que
assusta apenas por ser possível. Ou, mais precisamente, é a própria dimensão –
intransitiva – do possível que deve ser eliminada.
O pânico distingue-se do
terror, estado afectivo caracterizado precisamente pela perda de referências a
um lugar de desamparo no psíquico. No terror, o desamparo é sem limites, está
em todo o lugar e todo o momento. O não-senso é a sua marca fundamental. Já o
pânico refere-se aos momentos de vacilação em que os limites que o sujeito
reconhece como separando-o de um abismo infinito parecem apagar-se. O terror
implica paralisia, entrega de si mesmo ao mortífero. É do lado da vida que se
tem pânico.
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