Os ataques de pânico –
brutais, incompreensíveis, repetitivos – não parecem remeter a nada senão a
eles mesmos, constituindo-se aparentemente uma experiência de pura perda. Aos
olhos de quem os experimenta, tais ataques podem parecer absurdos e sem
qualquer relação com o resto da sua vida psíquica. Eles apresentam-se como
“espontâneos” e “incompreensíveis”.
O pânico apresenta-se antes
de mais nada como esmagamento da linguagem, mutismo e paralisia, colocando o
sujeito necessariamente na situação de só poder falar da sua aterradora
vivência psíquica a posteriori
[nachtraglich], num tempo em que não se está mais em pânico.
(…) o pânico é o estado
afectivo que se instaura quando o aparelho psíquico, vendo-se radicalmente confrontado
com a Hilflosigkeit – sua dimensão de desamparo fundamental – descobre, com terror,
que o lugar onde esperava encontrar a presença concreta de um fiador da estabilidade
do seu mundo está fundamentalmente vazio.
Tal confrontação, para resultar
em pânico, implica (…) que até ao momento das crises, a dimensão de desamparo da
linguagem havia sido “tamponada” naquele sujeito pela presença concreta de “objectos-fiadores”
que permitiam a manutenção inalterada de uma ilusão de se estar totalmente protegido
por um ser omnipotente, imortal e benfazejo.
Por vezes, a própria questão de
falta de garantias sequer chega a ser colocada. O pânico instaura-se num momento
de derrocada desse sistema de ilusões. (…) Instala-se, portanto, em momentos em
que o aparelho psíquico se vê obrigado a reconhecer os limites enquanto tais, de
suas possibilidades de simbolização, mas não suporta nem o peso nem as consequências
desse reconhecimento, dado que a existência de tais limites passa a ser vivenciada
como uma ameaça iminente de desabamento do mundo simbolicamente organizado.
In Pânico e Desamparo
Mário Eduardo C. Pereira
Sem comentários:
Enviar um comentário