Para as crianças é muito
difícil expressar os seus sonhos maus/pesadelos e uma das razões, directa ou
indirectamente, são os pais. Quem mais? Pobres pais…
Indirectamente porque o sonho
pode ter como personagem os próprios pais: “A mãe enlouquecida que fecha o filho
dentro de um armário escuro”; O pai transformado em monstro persegue a filha
com uma faca da cozinha”; A mãe/bruxa com os olhos vermelho incandescente
incendeia a cama onde o filho dorme”. Como conseguirá a criança contar estes
sonhos aos pais onde eles aparecem como criaturas terríveis? De uma maneira
geral as crianças sentem que estes sonhos não serão bem aceites pelos pais. E,
quantos pais conseguiriam lidar com sonhos desta natureza? Não é fácil, à que
dizê-lo.
Por outro lado, temos os pais
que acordados a meio da noite, se confrontam com: “há um monstro debaixo da
cama”; está alguém atrás do armário”, e a resposta é: “isso não é nada, é um
pesadelo, dorme que isso já passou”.
Se a criança viu o monstro,
então ele existe. E se ele existe, melhor será perguntar: “como era esse
monstro?”; “o que é que ele estava a fazer?”; “ainda está aqui?”; “vamos correr
com ele daqui”.
Se os pais não se
disponibilizam a entrar no sonho, no espaço assustador, as crianças podem concluir
que ninguém acredita nelas ou que os pais também estão assustados e por isso
incapazes de as proteger. “Só me tenho a mim para me proteger”. Assim pode
iniciar-se um afastamento dos pais, um isolamento em relação ao mundo que a
rodeia, pois há coisas sobre as quais não se pode falar, coisas indizíveis, impossíveis
de serem partilhadas. O mundo começa a fechar-se e nesse mundo, muitas vezes a
criança precisa criar – um outro – dentro dela própria que a proteja.
Quando o terror não pode ser
compartilhado a solidão ganha espaço. Estas experiências vividas sem
testemunhas, levarão a criança a questionar até que ponto poderá partilhar a
raiva, a mágoa e o sentimento de abandono. Impossibilitada de se fazer ouvir, gritará
alto com maus resultados escolares, violência com os colegas, isolamento,
alergias e mais alergias.
A criança gritará porque é a
única forma que tem de se fazer ouvir, mas dramaticamente, não é porque grita
que será ouvida. Será tratada, porque está doente e doente permanecerá até ser
ouvida.
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