Após
a sua formação, Lori tinha a expectativa de poder estabelecer-se, iniciar a sua
prática clínica e colher os frutos do investimento pessoal e financeiro: satisfação no trabalho e remuneração justa. Não foi preciso muito tempo para que as suas
expectativas fossem goradas pela falta de pacientes que, concluiu, se alargava
até aos mais antigos e experientes. Isso, devia-se em parte, às seguradoras que
tinham deixado de reembolsar os gastos com as terapias.
Uma
nova realidade esperava por Lori; Branding consultants for therapists. Vários
colegas seus tinham recorrido ao auxílio de branding consultants para através de
estratégias de marketing conseguirem distinguir-se dos
concorrentes, tornando-se visíveis ao grande público.
No
meio de um conflito entre questões técnicas e éticas acabou por procurar um
destes profissionais. Segundo ele, as pessoas já não estavam interessadas nas
terapias convencionais, desejavam soluções rápidas e fáceis para os seus
problemas e, estavam susceptíveis a propostas mais atraentes. Os terapeutas
generalistas - old-school – estavam ultrapassados e o que atraía as pessoas
eram especialistas, por exemplo, em cyberbullying
e sexting.
Para
além disso, para evitar ser considerado frio e distante, era sugerido que o
terapeuta, juntamente com o anúncio da actividade profissional, expusesse a sua
vida pessoal na redes sociais, principalmente os seus problemas, para que os
pacientes se identificassem com eles e assim criassem uma proximidade.
O
artigo de Lori é extenso e merece uma leitura atenta porque foca aspectos até
aqui pouco abordados e com enormes implicações. Acredito que a escolha
de um terapeuta no Google passe pela capacidade de sedução da mensagem, seja através
da falsa intimidade ou pelo milagre prometido, e, quiçá, uma atraente foto da
terapeuta numa praia das caraíbas, mas temo que o processo nasça inquinado.
Se
o terapeuta estiver mais interessado nos seus proveitos financeiros do que no paciente,
então, aconselho uma profissão mais leve e rentável. Isto, não implica que se
ignore o drama que se está a colocar aos terapeutas, que tanto
investiram na sua formação para estarem aptos ajudar e se vêm numa situação
desesperante. No entanto, há limites, não vale tudo.
Os
terapeutas, para além de serem pessoas como as outras e terem que pagar as suas
contas, têm também a responsabilidade de impedir, no mínimo, não contribuir,
para que as psicoterapias passem a ser vistas como fórmulas/produtos de consumo,
propiciadores de bem-estar imediato e constante, negando a realidade numa atitude
delirante. Não é fácil, mas é essencial.
Desde
os tempos idos do início das psicoterapias, mérito seja dado a Freud, até hoje,
várias mudanças se verificaram. Actualmente, sabe-se que o poder “curativo”
está na relação - autêntica - com o outro. Os estudos com bebés mostram que
desde o nascimento, aquele pequeno "Ser" procura o outro – a relação –. É a
partir do outro que verdadeiramente se nasce e se faz o homem.
Mascarada
de múltiplas formas, lá está, a patologia dos nosso dias – o vazio -. A ilusão
do preenchimento para esconder a incompletude fornecida por
qualquer gadget é efémera, dura até sair o modelo seguinte. As responsabilidades não devem ser atribuídas
exclusivamente à publicidade que vende prazer imediato e a fantasia de que tudo
é possível com um cartão visa; elas são também de todos nós que fomos sendo alegremente
corrompidos pelo desenfreado consumismo como forma de alienação do que nos
rodeia.
Se
tiver que ficar para trás por não acompanhar os novos tempos, ficarei. Ficarei
com as minhas convicções, com aquilo que acredito e tenho a certeza que não
ficarei sozinho.
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