Não tenho em boa conta os Experts em crianças. Eles que me
desculpem, não se trata de nada pessoal, mas os estragos que têm produzido são consideráveis
e proporcionais às “teorias” que desenvolvem. A forma como surgem, se disseminam
e se fixam certas crenças culturais de como cuidar das crianças, quase sem
questionamento, também é uma questão interessante.
A parentalidade é uma das tarefas
mais difíceis e intensas que é colocada ao ser humano, não só pelas exigências,
principalmente, emocionais, mas também porque remexe com as nossas próprias
experiências de termos sido cuidados pelos nossos pais.
Entre as formas de lidar com medos,
inseguranças e até algum desespero, inerentes à parentalidade, está o aferrar a
certas crenças colhidas aqui e acolá. Naturalmente, os pais fazem aquilo que
consideram ser melhor para os filhos, e fazem-no na convicção de que está “correcto”.
Gostam dos filhos e procuram dar-lhes o melhor que podem e sabem.
O instinto natural de cuidar
quando bloqueado pelas dúvidas abre espaço para a crença e não faltará quem,
com a maior das generosidades, venha dizer como se faz. Então, a mãe, a
verdadeira especialista, deixa uma via aberta para a crença e a expertise de que alguns se fazem donos.
Como refere Darcia Narvaez, em “Modern parenting may hinder braindevelopment, research shows”, certas práticas tornaram-se comuns na nossa
cultura. Entre as mais habituais estão o fechar as crianças nos quartos e o
retardar a resposta a um bebé agitado, inquieto que reclama por cuidados, para
que não fique estragado com mimos.
A amamentação, a resposta
pronta ao choro, o contacto corporal constante são, segundo Narvaez, práticas parentais
ancestrais que, como se conclui das investigações, contribuem para o
desenvolvimento cerebral, para a formação da personalidade e a saúde em geral,
mas que fruto de “práticas modernas” foram esquecidas, caíram em desuso e como
corolário disso surgiu uma epidemia de doenças mentais nas crianças: distúrbio hiperactivo
com défice de atenção, depressão, ansiedade, etc.
As crianças são diferentes umas
das outras, e o que funciona para uma pode não ser o melhor para outra. O “segredo”
está na capacidade de a cada momento procurar compreender o que a criança nos
quer dizer com um choro, com uma birra ou com ataque de fúria. Pais e filhos
criam o seu próprio dialeto e é nessa aprendizagem sem dicionário que se
inscreve, com rasuras e erros de interpretação, o texto, que lido e relido e
tantas vezes reescrito, que vulgarmente chamamos vida.
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