Thomas Ogden descreve a psicoterapia
e / ou a psicanálise como uma oportunidade para o devaneio. Ele cita R.M. Rilke, 1904
“I hold this to be the highest task of two people;
that each should stand guard over the solitude of the other.”
Ogden recorda-nos que não
só temos partes sexuais do corpo que são privadas, como também temos processos
mentais privados, que podem ser compartilhados, ou não, como assim entendermos.
A concepção da psicoterapia como promotora do devaneio e da presença de um
mundo interno privado, contrasta com uma das regras fundamentais de Freud de
que devemos instruir os nossos pacientes a dizerem-nos o que está na sua mente.
Pelo contrário, refere Ogden,
nós temos que ajudar os nossos pacientes a expandir os seus devaneios e, em
seguida, escolher o que desejam compartilhar connosco. Ogden vê essa regra de
Freud como contra-terapêutica, pois o nosso objectivo como terapeutas é incentivar
e orientar em vez de ditar o que deve ser feito. Pacientes deprimidos,
ansiosos, obsessivos e histéricos não conseguem ter devaneios, porque os
sintomas sequestraram o seu cérebro de tal forma que eles estão restringidos no
que "escolher" para poder ser pensado.
Aqui, a escolha da palavra
implica uma escolha inconsciente, onde, por razões misteriosas, o cérebro do
paciente está em shut-down e, como
tal, estão limitados na capacidade de aceder ao seu próprio cérebro. É
como se tivessem uma casa muito grande, mas todos os quartos estão
fechados, e o paciente tem medo de encontrar a chave, pois ele teme o que vai
encontrar, de modo que circunscreve-se a um pequeno quarto, onde sabe o lugar
de tudo.
Para Ogden, que ao
conseguirem a chave os pacientes vêem a exploração da casa, do cérebro, como um
devaneio, como uma fonte de mais pensamento, ao invés de um lugar que temem, seja tão doloroso que possam ficar presos na dor. A ironia aqui é
que os pacientes estão presos, mas temem avançar, pois podem ficar presos
de uma forma diferente e a mudança é assustadora.
O conceito de devaneio está
associado a um espaço de interesse, de curiosidade e de livre flutuação de
ideias, em vez de dor e sofrimento. Ser curioso é pensar, enquanto sentir a dor
é o estreitamento, é ser autocentrado. Orientar os pacientes para a curiosidade,
longe do seu foco no sintoma, é o coração da psicoterapia. Outros tipos de
psicoterapia trabalham ao contrário, concentram-se nos sintomas e desencorajam
a curiosidade. Pode dizer-se que eles se complementam e os pacientes podem
beneficiar de ambos. Ogden refere, que seria tentado a concordar, mas o
alívio a longo prazo vem do pensar sobre o pensar e de desafiar os nossos
pacientes a questionar o que os sintomas significam para eles, de forma a usar
o sintoma como um trampolim para devaneio.
Psicoterapia