Recentemente
estive a conversar com um jovem sobre a sua ansiedade, que era sentida por ele
como muito intensa. Quando lhe perguntei acerca do que seria a sua ansiedade
ele disse que não sabia. Quando lhe sugeri que podíamos tentar explorar sobre o
que se tratava a ansiedade ele disse que era tão intensa que devia ser bioquímica.
Isso significava que para ele a ansiedade não podia ser entendida como sendo
psicológica, mas tinha que ser tratada como parte da sua “doença”. Eu reconheci
que a ansiedade envolve bioquímica, mas mostrei-lhe que também existem
experiências e interpretações das experiências que despoletam reacções
químicas. Por exemplo, se alguém aponta uma arma na nossa direcção,
provavelmente vamos sentir um intenso processo bioquímico dentro de nós mas a
experiência não seria “apenas bioquímica”.
Se
as pessoas procuram compreender (se) e trabalhar os seus problemas emocionais é
essencial que tenham curiosidade sobre as suas experiências/vivências e possam
reflectir sobre o que os pode ter desencadeado. Por vezes essa curiosidade ou
reflexão trás importantes informações sobre essas experiências, e pode, por
vezes, permitir a identificação do que fez despontar a ansiedade e dessa forma possibilitar
a sua resolução. Claro que situações de ansiedade e de depressão, normalmente têm
origem em experiências muito mais complexas, e implica uma maior reflexão.
Vivemos
numa sociedade que não gosta da complexidade e da reflexão profunda, de modo
que já temos um viés na direcção de pensar que as emoções perturbadoras não
fazem sentido e rapidamente concluir que se trata apenas de uma questão química.
Este viés faz-nos pensar que não devemos vivenciar estados emocionais
perturbadores, por isso temos tendência a afastá-los ou a dissociá-los o que
torna mais difícil entendermos as causas e decidir o que fazer com eles.
Aqueles
que comercializam drogas psiquiátricas aproveitam este viés cultural para
oferecer uma pseudo-explicação sedutora, de que os estados emocionais
indesejáveis e que não são facilmente resolvidos devem ser o
resultado de um "desequilíbrio bioquímico" ou algum outro problema biológico. A nossa cultura tornou-se
fortemente influenciada por esta forma de ver as coisas, ao ponto da maioria
acreditar que os problemas emocionais graves para os quais não há uma
explicação fácil devem ser causados por uma falha bioquímica, em vez de ser
algo que pode ser potencialmente compreendido e resolvido.
O
triste resultado deste esforço de marketing tem sido o drástico agravar da
tendência cultural para evitar ouvirmo-nos uns aos outros e a nós mesmos.
Qualquer problema mental ou emocional que não pode ser resolvido rapidamente é
"bioquímico" e não vale a pena sequer tentar entender, pelo
contrário, devemos partir logo para as drogas.
Quando
as pessoas estão traumatizadas ou quando experimentam conflitos que excedem a
sua capacidade de lidar com eles dá-se uma dissociação. Quando a dissociação é
o problema, há uma necessidade de trabalhar no sentido de uma maior compreensão
e integração. No entanto, o efeito da crença no desequilíbrio bioquímico vai
aumentar a dissociação. Ao invés de se questionar acerca das origens da ansiedade
ou da depressão, por exemplo, a pessoa convencida de que é um desequilíbrio
bioquímico procura apenas livrar-se dela sem tentar compreender a sua origem
interna.
Quando
as pessoas estão convencidas que os seus problemas são bioquímicos têm menos
propensão em explorar o problema com outras pessoas ou com um terapeuta. E,
quando o terapeuta está convencido de que o problema do paciente é
"bioquímico" então, deve aconselhá-lo a procurar tratamento através
da medicação. (as teorias do “ desequilíbrio bioquímico" também são óptimas
para explicar as falhas de compreensão por parte dos terapeutas!)
O
resultado final desta desinformação provocada pelo marketing pode ser
extremamente iatrogénica, e ser uma das causas primárias, juntamente com os
efeitos secundários a longo prazo das drogas, do agravamento da saúde mental.
Adaptado e traduzido daqui
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